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Facebook Pay – pagamento através do WhatsApp

Notícia aguardada há algum tempo, finalmente chega ao Brasil. Após os testes e lançamento na Índia, deverá chegar ao Brasil em julho de 2020, o Facebook Pay. Por ora através da plataforma WhatsApp, mas que poderá se expandir para outras plataformas do Facebook, como o Messenger e Instagram.

A informação é de que qualquer usuário do WhatsApp poderá enviar e/ou receber dinheiro, assim como pagar por serviços e produtos no varejo, através do aplicativo WhatsApp.

Confesso que esperava algum movimento disruptivo, mas não foi o que vimos nas notícias de ontem. A empresa de Mark Zuckerberg se associou às bandeiras Visa e Mastercard, aos bancos Nubank, Banco do Brasil e Sicredi e, à credenciadora Cielo.

Com isso, utilizará a mesma plataforma dos cartões de pagamento já existentes, que rodam no Brasil há mais de 50 anos. Uma plataforma complexa e cara.

Como disse os analistas do Bradesco BBI, Victor Schabbel e Sofia Viotti, “Consequentemente, a nova função de pagamento do WhatsApp é baseada e será executada nas infraestruturas de esquemas de cartão à moda antiga.” (tradução nossa).

O Bradesco, um dos controladores da Cielo, não participou do lançamento embora já tenha homologado a solução. Talvez porque o banco investe na sua própria carteira digital, a Bitz, ainda a ser lançada e que será concorrente do Iti do Itaú-Unibanco.

Para entender melhor o funcionamento, analisamos como se dará essas transações, ao menos por hora:

Transferência entre pessoas (P2P):

Qualquer pessoa, usuários do WhatsApp, poderá transferir dinheiro para outra pessoa em sua lista de contatos, desde que tenha uma conta bancária em um dos bancos parceiros, utilizando um cartão de débito válido. Atualmente, apenas os cartões emitidos pelo Banco do Brasil, Nubank e Sicredi são elegíveis. Para qualquer pessoa receber dinheiro, aplica-se a mesma restrição: deverá possuir um cartão de débito de qualquer um dos bancos mencionados acima, e que precisa ser previamente associado à sua conta do WhatsApp. Para concluir o envio do dinheiro será necessário a digitação de uma senha ou o reconhecimento biométrico do celular.

Duas novidades importantes podem ser observadas:

1) Interoperabilidade entre as contas bancárias dos bancos parceiros. Como um exemplo: um cliente de um Banco do Brasil poderia transferir dinheiro para alguém que tenha uma conta bancária no Nubank. No entanto, por enquanto, não será possível transferir para um amigo que tenha uma conta no Itaú, por exemplo.

2) Não é necessário digitar, nome, CPF, código do banco, agência e conta. Bastando simplesmente utilizar o número de telefone que consta na agenda.

Entretanto, não se trata de “pagamento instantâneo”, como muitos noticiaram. Certamente, o pagador poderá iniciar uma transferência a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana. Entretanto, o valor só estará realmente disponível depois da compensação e liquidação. Claro que isso poderá ocorrer em alguns minutos, caso pagador e recebedor tenham conta no mesmo banco. Mas quando se trata de bancos diferentes, essa transação deverá ser liquidada na CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), que opera somente nos dias úteis com horários pré-definidos.

Conforme já divulgado na imprensa, os usuários do WhatsApp poderão transferir até R$ 1.000 para um de seus contatos, realizando até 20 transações por dia. O valor total das transferências é limitado a R$ 5.000 por mês.

Houve um acordo entre todos participantes de que nenhum valor deverá ser cobrado do usuário do WhatsApp, seja pagador ou recebedor, quando se tratar de transferência entre pessoas (P2P).  Sabemos que essas transações têm um custo, principalmente quando liquidadas na CIP. Esse custo será subsidiado pelas taxas cobradas nas transações com o varejo. Nenhuma novidade, afinal, outros players do mercado de pagamentos já operam assim.

Tudo indica que o Facebook garantirá às transações entre pessoas, utilizando algoritmos para identificar possíveis fraudes. Como dizemos no setor, o liability fica com o Facebook. Embora não tenha visto nenhuma notícia comentando o assunto, imagino que esse possível custo seja extremamente pequeno para quem irá acumular toneladas de dados sobre hábitos de consumo e preços pagos de seus usuários.   

Pagamento no varejo (P2B):

Estabelecimentos comerciais e microempreendedores individuais (MEI) poderão receber pagamentos através do WhatsApp, desde que possuam uma conta do WhatsApp Business e sejam credenciados da Cielo. A empresa não tem exclusividade, mas por hora, é a única credenciadora habilitada.

Para que isso seja possível, o cliente que está pagando pelo serviço ou produto precisará ter um cartão de débito ou crédito emitido por um dos três bancos mencionados acima.

Quando se tratar de pagamentos feitos a comerciantes, sejam estabelecimentos comerciais ou microempreendedores individuais, a Cielo cobrará uma taxa de desconto (MDR) de 3,99% sobre o valor das transações comerciais, seja com cartão de crédito ou débito.

Nas transações com cartões de débito a liquidação se dará no dia seguinte (D+1), enquanto as transações com cartões de crédito serão liquidadas em dois dias (D+2).

No caso das transações com cartões de crédito, liquidadas em dois dias, essas taxas são compatíveis com o mercado para pequenos lojistas, mas certamente são altas e não competitivas quando se tratar de médio e grande varejos. O que dizer então das transações com cartões de débito? Como já mencionamos acima, parte dessa taxa deve subsidiar os custos das transações entre pessoas.

As bandeiras não confirmaram, mas tudo indica que haverá uma redução no valor da taxa de intercâmbio (parte da taxa de desconto que remunera os emissores do cartão de pagamento). Dessa forma, a Cielo deve continuar retendo uma boa parte da taxa de desconto, assim como o Facebook deve receber uma remuneração por transação, tanto da Cielo como dos bancos participantes. Os números ainda não são conhecidos.

Minha conclusão é de que terá muito pouco impacto no setor de pagamentos, enquanto não tiver a adesão de outros bancos, principalmente dos grandes.

Certamente não se pode deixar de mencionar que mais de 120 milhões de brasileiros já utilizam o WhatsApp diariamente, o que nos levaria a acreditar que o Facebook Pay poderia ser facilmente adotada pela maioria,  entretanto, da forma como foi lançado, o usuário tem que ter uma conta em um dos banco parceiros.

Por enquanto é o que foi possível analisar. Ontem o assunto foi WhatsApp, no entanto, temos que discutir a nova infraestrutura de pagamento instantâneo que está sendo desenvolvida pelo Banco Central do Brasil, conhecida como PIX, que deverá ser lançada em novembro de 2020. Esta sim, poderá ser disruptiva!

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Conductor estreia no mercado de acquirer

A ACI Worldwide anunciou que o Conductor, um dos principais processadores de cartões baseados no Brasil, selecionou a empresa para sua entrada no mercado latino-americano de credenciamento (acquirer). A Conductor pretende usar as soluções de Pagamentos a Varejo e Pagamentos da UPI da ACI, que serão implantadas na nuvem pública da Microsoft Azure.

Condutor cuja carteira de clientes inclui instituições financeiras, fintechs e comerciantes recentemente embarcou em uma grande iniciativa para expandir seus negócios de credenciamento.

Em 2019, o mercado brasileiro atingiu R$1,84 trilhão em transações de pagamentos com cartões de crédito, débito e pré-pagos, representando um aumento de 18,7% em relação a 2018.

“Estamos no modo de crescimento e fazemos parceria com a ACI – um provedor de pagamentos de classe mundial com um profundo conhecimento do mercado adquirente e da região – faz parte de nossa estratégia de expansão, permitindo atender às necessidades de processamento desse mercado, em um de maneira ágil, flexível, robusta e econômica.”, disse Antônio Soares, CEO, Conductor.

A empresa planeja iniciar oficialmente as operações no país no segundo semestre de 2020.

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PayPal lança pagamentos com QR Code para 28 mercados em todo o mundo

Matéria publicada no site Finextra, em 19/05/20.

O PayPal lançou o pagamento por QR Code no Reino Unido e em 27 outros mercados ao redor do mundo, fornecendo uma maneira sem contato para as empresas receberem pagamentos e para os consumidores fazerem compras durante o Covid-19.

De cafés locais para venda a produtos de segunda mão – a implementação da funcionalidade do código QR no aplicativo do PayPal permite que os clientes comprem ou vendam pessoalmente, sem a necessidade de trocar dinheiro ou digitar senhas.

John Kunze, vice-presidente sênior de experiências de marca do PayPal, afirma: “A implementação de códigos QR para compradores e vendedores não apenas incorpora a segurança e a conveniência de usar o PayPal pessoalmente, mas também leva em consideração os requisitos de distanciamento social em andamento, mesmo que começamos a ver algumas restrições serem levantadas em todo o mundo. ”

Pesquisas recentes da agência de produtos e design Foolproof sugerem que compras e pagamentos sem contato podem ser um dos legados duradouros da pandemia do Covid-19, à medida que os consumidores evitam dispositivos – como caixas eletrônicos e POS – que exigem digitação de dados e senha.

Lisa Scott, diretora sênior do PayPal, diz: “O Covid-19 mudou a experiência de compra no Reino Unido como a conhecemos. A necessidade de segurança e conveniência está lá, como sempre, mas agora precisamos vender e comprar de uma maneira que seja rápida, segura e envolva contato social limitado. ”

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BACEN – Mais um passo

Sempre gostei da atuação do Banco Central do Brasil e, com a publicação do edital de consulta pública 75/2019, sou cada vez mais fã do regulador.  

Acompanho o Bacen desde 2001, com a implantação do SPB. Na época, como executivo da Redecard e membro da ABECS, tivemos diversas interações com o Banco.

No início o Bacen parecia ter uma equipe muito radical, interessada em “quebrar ao qualquer custo” todas as barreiras, com a clara visão de aumentar a competição, trazendo inovação e reduzindo os custos do sistema. Embora o discurso parecesse radical, suas intenções sempre foram muito boas, entretanto, não tinha o poder para fazê-lo.

Durante os anos 2000, entre os participantes do mercado, havia um claro entendimento que nenhum setor gosta de ser regulado, mas se não houvesse alternativa, que fosse o Banco Central, ao invés do Congresso, afinal agem de forma técnica e não política.

Somente a partir da promulgação da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, que o Bacen passou a ser o agente regulador do sistema de pagamentos no varejo. Desde então temos visto uma atuação impecável (embora há quem discorde) do Banco Central. Sempre consultando e ouvindo todos os participantes do mercado, antes de emitir suas regras.

No dia 16/12/19, publicou o edital de consulta pública 75/2019, colocando em discussão proposta de circular que altera o Regulamento anexo à Circular nº 3.682, de 4 de novembro de 2013, para disciplinar a modalidade de arranjo de pagamento de “saque e aporte” no âmbito dos arranjos integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Os caixas eletrônicos são os principais veículos para a prestação de serviço de saque e de aporte. 

Revendo as mudanças e evolução do sistema de pagamentos dos últimos 5 anos, é perceptível um aumento significativo da concorrência, inclusão financeira, acesso dos MEIs (Micro Empreendedor Individual) ao sistema, redução dos custos, etc.

Houve uma explosão na oferta contas de pagamento (alternativa à conta bancária), contas digitais, carteiras eletrônicas (com QR Code ou NFC) e cartões pré-pagos.

Uma conta de pagamento, com um cartão pré-pago ou carteira eletrônica, parece ser o instrumento perfeito para substituir o papel moeda, melhorando a conveniência e segurança para um segmento importante da sociedade. De acordo com o Bacen, o dinheiro ainda é a forma de pagamento utilizado com maior frequência por cerca de 60% da população brasileira. Entretanto, a alternativa ao papel moeda ainda enfrenta algumas barreiras e a principal delas são os custos de saque e aporte.

Depositar ou sacar dinheiro de uma conta de pagamento implica em um certo trabalho e custos adicionais. Como em geral os provedores de contas de pagamento não possuem lojas físicas, aportar valores nas contas significa fazer uma transferência bancária (TED/DOC de uma conta bancária) ou pagar um boleto bancário com o valor que se deseja depositar. O saque poderia ser diferente, já que temos no Brasil uma excelente infraestrutura, que inclui um número significativo de caixas eletrônicos. Entretanto, o acesso ao sistema é restrito e exige um pagamento por saque que, muitas vezes, torna o sistema inviável para o consumidor.

Como disse o Bacen, há evidências de que os bancos digitais, os emissores de moeda eletrônica e mesmo bancos tradicionais de menor porte, por não disporem (ou disporem de forma muito limitada) de canais de atendimento presenciais, têm enfrentado custos elevados para dar acesso a esses serviços para seus clientes.

Com a nova regulação, proposta pelo BC, espera-se corrigir essa distorção, nivelar as condições concorrenciais entre agentes e aumentar a competição no Sistema Financeiro Nacional e no SPB.

 

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Após processo no Cade, Rede, do Itaú, amplia isenção de pagamento em dois dias

Matéria de Aline Bronzati, publicado em 16/01/19 no caderno de Economia & Mercados do Broadcast

A Rede, braço de maquininhas do Itaú Unibanco, anunciou nesta segunda-feira, 16, a extensão da isenção de taxas na antecipação de pagamentos em dois dias úteis, o chamado D+2, para transações com cartão de crédito à vista a todos os clientes. A medida, antes restrita a correntistas do Itaú e do Tribanco, será ampliada a qualquer varejista com faturamento anual de até R$ 30 milhões a partir desta segunda e ocorre após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ter aberto um processo para investigar a prática comercial da número dois do setor de maquininhas.

“Com a melhora econômica prevista para 2020 e o patamar historicamente baixo da taxa de juros, vimos a necessidade de darmos uma contribuição adicional à economia, ampliando o benefício a qualquer lojista independentemente de ter ou não relacionamento com o Itaú”, diz o presidente da Rede, Marcos Magalhães, em entrevista exclusiva ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O executivo nega, porém, que a nova ofensiva da Rede resulte de orientação por parte do Cade. O órgão antitruste abriu um processo para investigar a prática comercial adotada pela Rede em maio deste ano, de isentar a antecipação de recebíveis nas transações com cartão de crédito à vista somente aos clientes que recebiam seus pagamentos no Itaú e, posteriormente, também aos correntistas do Tribanco.

O Cade chegou a determinar, em outubro, a suspensão da ação da Rede a partir do dia 05 de novembro até o julgamento do mérito. No entanto, a empresa e o banco obtiveram uma liminar da Justiça Federal que liberaram de manter a prática um dia antes da entrada em vigor da decisão do órgão antitruste.

Recentemente, o órgão rejeitou recurso apresentado pelo Itaú no âmbito da promoção da Rede que beneficiava lojistas com conta na instituição. Ainda assim, a adquirente pode seguir com a prática uma vez que segue amparada pela liminar.

“Não tem orientação do Cade em relação a isso (extensão da ação a todos os clientes). Estamos tranquilos e confortáveis. O movimento que estamos anunciando hoje não é agenda relacionada à discussão técnica com o Cade. O prazo está mais relacionado com o objetivo de fecharmos o ano e iniciarmos 2020 com uma nova dinâmica”, garantiu Magalhães.

Segundo o executivo, a medida além de beneficiar os comerciantes na data comercial mais importante do ano, o Natal, alcança as mais de 15 milhões de pequenas e médias empresas do Brasil, ou seja, 98% do mercado de varejistas no País, que passam a ter acesso ao pagamento em dois dias sem cobrança de taxa. A medida, acrescentou Magalhães, não é promocional e passa a ser a nova prática comercial da Rede. Vale, assim, para clientes atuais, que serão beneficiados de forma automática com a medida, bem como novos clientes.

Desde que a adquirente isentou os clientes com faturamento anual até R$ 30 milhões e que recebem pagamentos no Itaú e Tribanco, em maio último, já foram pagos, conforme ele, mais de R$ 16 bilhões a centenas de milhares de microempreendedores e pequenas e médias empresas. Em termos de volume financeiro, segundo o executivo, a Rede ampliou seu volume financeiro em R$ 4 bilhões no segundo trimestre ante o primeiro e no terceiro contra o segundo.

O presidente da Rede não revela, porém, a expectativa de incremento do volume com a ampliação da iniciativa de isenção de taxa na antecipação de recebíveis em transações com cartões de crédito. Também não abre o impacto esperado pelo banco com a renúncia de receitas que terá a partir da nova ofensiva.

Após isentar os clientes do banco com faturamento até R$ 30 milhões na antecipação de recebíveis do crédito à vista, o Itaú revisou para baixo suas projeções de desempenho tanto sob a ótica de margens financeiras com clientes como do lado das receitas de prestação de serviços.

Na época, o presidente do banco, Candido Bracher, utilizou o movimento para justificar que a iniciativa da Rede não seria compensada em outra linha e que se tratava exclusivamente de um movimento de redução de preços como reflexo do aumento da concorrência no setor de maquininhas.

Acreditamos que o mercado de meios de pagamentos está caminhando para operar de forma aderente à prática internacional (que já atua em D+2). Além disso, há uma demanda histórica tanto do Banco Central como do comércio varejista pela redução do prazo de liquidação das transações”, avaliou o presidente da Rede. “É inexorável essa tendência”, acrescentou.

De acordo com ele, além do incentivo por parte do regulador, há ainda uma demanda dos clientes pela melhora do serviço na área de pagamentos. Sem abrir o indicador, ele afirmou que, desde que a Rede isentou os clientes com faturamento até R$ 30 milhões ano, a satisfação, medida pelo NPS (na sigla em inglês), aumentou em 20 pontos.

A Rede também tem conseguido, conforme Magalhães, ampliar seu market share no segmento de varejo. Por outro lado, como preferiu não entrar na “guerra de preços” do setor, tem visto sua participação se reduzir no atacado, cujas margens são menores. O resultado tem sido perda de mercado ao contrário da concorrente Cielo, de Bradesco e Banco do Brasil, que se debruçou em uma estratégia com foco em preço para ganhar escala e market share.

“Decidimos que não iríamos fazer guerra de preço nas grandes varejistas. Temos perdido share em grandes e crescido no segmento de varejo R$ 4 bilhões trimestre contra trimestre. Na somatória de ambos, temos perdido share, mas faz parte de uma ação planejada dentro do que faz sentido para nós”, explicou o presidente da Rede, sem abrir o atual share da número dois do mercado de maquininhas.

A isenção de taxas na antecipação de recebíveis ao varejo também tem permitido à Rede ampliar sua base de maquininhas. Ao fim de setembro, a empresa somava 1,465 milhão de terminais espalhados no Brasil, aumento de 108 mil terminais em relação a junho e de 328 mil em um ano.

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Transformação e Inovação – serviços financeiros e meios de pagamento

Texto de Luis Filipe Cavalcanti *

Os setores financeiro e de meios de pagamento passam por processos de disrupção em ritmo acelerado. Novas tecnologias como inteligência artificial, machine learning, blockchain, big data, processamento na nuvem, APIs, IOT, UX, mídias sociais, chat bots, realidade aumentada, wearables, biometria, entre outras, impulsionaram o surgimento de empresas dedicadas a aprimorar a experiência e o processo de compra do consumidor, bem como otimizar e transformar processos e modelos de negócio existentes. O uso intensivo das tecnologias digitais, associado à disseminação dos smartphones, intensificou o efeito de desmaterialização de ativos, em que objetos físicos são cada vez mais substituídos por ativos digitais, através de aplicativos no celular, fomentando inovação e desintermediação.

Com as novas tecnologias e as transformações exponenciais, novos modelos de negócio e processos digitais surgem, permitindo que startups e empresas estabelecidas aprimorem a relação com seus clientes e operem de forma mais enxuta, com ativos, equipe e custos fixos reduzidos, em um modelo de operação conhecido como “asset light”. O ritmo intenso das mudanças, não observado antes em termos comparativos, fez com que a transformação passasse a ser um ato contínuo na agenda estratégica das empresas, trazendo o desafio de alinhar pessoas e ajustar a cultura a novos paradigmas.

No setor bancário, os bancos digitais iniciaram o processo de transformação da indústria, oferecendo uma proposta de valor disruptiva e trazendo um novo conceito de banco, com modelos de negócio ágeis e escaláveis, oferecendo contas digitais com tarifas reduzidas (ou zero) como porta de entrada para a oferta de um portfólio de serviços e produtos financeiros customizados através do uso intensivo de dados.

Na área de meios de pagamento, o processo de transformação da indústria ocorreu a partir de 2010, quando houve o fim da exclusividade entre a credenciadora Visanet e a bandeira Visa (a exclusividade entre Mastercard e Redecard terminou em 2001). A partir de 2013, o processo de mudança se acelerou. Com a Lei n° 12.865/2013, o Banco Central instituiu o marco regulatório no setor com a criação dos arranjos de pagamento e instituições de pagamento, levando a um crescente aumento na quantidade de empresas participantes desse mercado, gerando maior competição, inovação e pulverização dos serviços oferecidos. Desde então, o mercado vem passando por sucessivas evoluções regulatórias, acarretando aumento da concorrência. As circulares de liquidação centralizada (BC Circular nº 3.765/2015) e o marco para subcredenciadores (BC Circular nº 3.886/2018) são exemplos desse movimento.

O Brasil apresenta um crescimento exponencial de fintechs. Segundo o site Radar Fintech, existem 529 startups financeiras em operação no Brasil, 151 apenas no setor de pagamentos, com soluções que melhoram as relações de compra e venda, reduzindo atrito, aproximando compradores e vendedores, tornando o pagamento ágil, simples, conveniente e transparente.

Com o surgimento e crescimento das fintechs, o chamado modelo tradicional de quatro partes do mercado de cartões, composto por bandeiras, bancos, credenciadoras e varejistas, também passa por uma transformação. As transferências instantâneas “peer-to-peer” e o QR Code criam alternativas de fluxo aos modelos tradicionais de pagamento, obrigando as empresas estabelecidas a repensarem seu modo de atuação. Como exemplo, as bandeiras de cartão, historicamente responsáveis por manter os ambientes de integração entre bancos e credenciadoras, estão abrindo as suas plataformas de forma colaborativa através de APIs para que fintechs desenvolvam soluções inovadoras. Investimentos estratégicos em fintechs, programas de aceleração e hackathons entraram definitivamente na agenda dessas empresas.

Em 2018, o Conselho Monetário Nacional regulamentou, através da Resolução nº 4.656, o funcionamento das empresas de tecnologia financeira que operam no mercado de crédito e criou duas opções de atuação: a Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). Com regras específicas e modelos de operação definidos, a regulamentação modernizou e permitiu a inovação no mercado de crédito, estimulando a competição e representando mais um passo no longo caminho de redução do custo de crédito e do spread bancário no Brasil. As fintechs inovaram no tempo de aprovação do crédito. Utilizando processos ágeis, estruturas enxutas e sob um guarda-chuva regulatório mais simples, elas utilizam tecnologias de inteligência artificial e machine learning, em conjunto com fontes tradicionais e alternativas de dados, para traçar o perfil individual do cliente, reduzindo riscos e melhorando a experiência do processo como um todo. Apesar das taxas oferecidas serem inferiores às dos bancos, o volume de crédito concedido por elas ainda é pouco significativo em relação ao mercado, o que, em parte, se justifica pelo processo de amadurecimento do modelo de negócio e por questões de funding para a operação.

Como um próximo e importante passo regulatório e tecnológico, o Banco Central anunciou que lançará o serviço de pagamentos instantâneos até 2020. Nele, os recursos da transação entrarão na conta do fornecedor em tempo real, através de uma liquidação centralizada no próprio BC. Os pagamentos poderão ser feitos através de telefones celulares e QR Codes, dispensando o uso das maquininhas (“desintermediação”), reduzindo os custos para comerciantes e participantes do sistema.

Em preparação para este novo cenário, cresce o número de carteiras digitais (“wallets”) e dos chamados “super aplicativos” para pagamentos, transferência de valores e outros serviços, bem como a disputa pelo uso e pela fidelidade do cliente. Empresas de varejo, tecnologia, delivery e bancos lançam produtos com o objetivo de influenciar e antecipar a mudança de hábito dos consumidores e das novas gerações. São exemplos de iniciativas: Ame Digital, Iti, PicPay, Magalu Pagamentos, RecargaPay, iFood Pay, Rappi Pay, banQi, Interpag, entre outros.

No epicentro destas transformações estão inseridos os conceitos de centralidade no cliente e estratégia digital. O consumidor terá diversas alternativas para realizar pagamentos e gerir a sua rotina financeira, e utilizará aquela que considerar mais conveniente e vantajosa, dependendo do seu perfil, necessidade e momento da compra. As fintechs aumentaram a “barra” do mercado nos quesitos de experiência do cliente na jornada de compra e em novos modelos de negócio (alguns ainda com desafios de sustentabilidade financeira), mas esse movimento foi essencial para a indústria que vem gradativamente aumentando, também,  a sua “barra” em como fazer negócios e atender aos clientes.

A crença de que “incumbentes devem encontrar inovação antes que fintechs encontrem distribuição” evoluiu. Bancos, adquirentes e bandeiras ajustaram as suas estratégias e desenvolveram o espírito de “fintechs”, identificando os principais pontos de atrito em suas operações, reorganizando estruturas e equipes em squads, buscando soluções ágeis e centradas no cliente, com equipes multidisciplinares, uso intensivo de tecnologia e ciclos rápidos de criação, feedback e melhoria. E foram além, deixaram o conceito de competição “pura” com as fintechs como a única alternativa, e seguiram para a colaboração e co-criação. Espaços como Cubo e Inovabra, bem como, os inúmeros investimentos feitos por empresas incumbentes em fintechs, são exemplos desse movimento.  

Ainda no contexto das mudanças regulatórias, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei n° 13.709/2018), já presente em países da Europa através da GDPR, entrará em vigor de forma plena em meados de 2020, o que pressiona as empresas a se prepararem, desde já, para lidar com os seus efeitos.

Por fim, o movimento de “Open Banking”, que já é usado e regulamentado na Europa desde janeiro de 2018, através do PSD2, está em implantação no Brasil. Em 24/04/2019 o Banco Central divulgou as diretrizes para o Sistema Financeiro Aberto (“open banking”), com expectativa de implantação a partir do segundo semestre de 2020.

Uma série de transformações estão em curso nos mercados financeiro e de meios de pagamento levando à maior concorrência, eficiência e melhoria dos serviços. E então as empresas questionam o que deve ser feito. Como antecipar tendências que surgem no mercado? Como entregar propostas de valor vencedoras aos clientes? A resposta não é direta, nem única. Em um cenário de transformação contínua, as respostas também devem ser contínuas e, para atingir respostas e entregas contínuas, em ciclos rápidos e alinhados às mudanças, as empresas precisam estar próximas aos clientes, entender as suas necessidades, e usar intensamente tecnologia e análise de dados para atender às suas novas e crescentes expectativas. O impacto das mudanças começou e o resultado será a construção de um ecossistema financeiro e de pagamentos mais pujante, eficiente e ágil. Transformação e inovação contínuas já são o novo “normal”.

* Luis Filipe Cavalcanti – Executivo e empreendedor com 15 anos de experiência no mercado de meios de pagamento. Foi sócio da Muxi Tecnologia em Pagamentos S/A, onde ocupou a posição de CEO, além de diversas posições de direção executiva. Trabalha como consultor de empresas e fintechs nas áreas de estratégia, produtos e tecnologia. Engenheiro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com Mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ e MBA pelo MIT Sloan School of Management.