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Você pediu e o Victor responde

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No post de 28/12/16, sob o título Cartão de crédito: Por que o lojista só recebe em 30 dias? o Victor comentou: Qualquer dia, se te interessar, te conto como é que as taxas cresceram de 2% para até 5% e porque os prazos subiram para 31 dias.”

Aqui vai a história contada por quem a viveu:

Como a história anterior ajudou alguns amigos a lembrarem de uma boa época da Credicard, recebi pedidos de completar a narrativa explicando como o mercado estabeleceu, em 1985/86, a taxa de desconto de 3% e o prazo de 31 dias.

Mas para isso é preciso lembrar do mercado da época. A Credicard já era líder, tanto como emissor como adquirente. Os cartões emitidos no Brasil só seriam aceitos no exterior em 1991 (alguém do Marketing Credicard da época podia um dia contar a história do anúncio que a Credicard fez no meio do Jornal Nacional anunciando a internacionalização, ao som de “What a wonderful world”), mas várias bandeiras internacionais já eram aceitas no Brasil, entre elas a American Express. Para a equipe de campo da Credicard, Amex era uma marca complicada de enfrentar. Seus executivos de contas tinham um discurso poderoso e bem treinado. Depois de assistir a uma exposição de um representante da Amex, era difícil não acreditar que eles eram mesmo os melhores do mundo em tudo que faziam. Mas os lojistas prezavam mesmo era quem vendia mais, e nesse ponto a Credicard era imbatível, e passava longe das demais redes adquirentes, incluindo o Amex. O fato é que o Amex era o “cartão sonho”, porque todo mundo gostaria de ter um, mas a faixa de renda era bem mais alta. Mas no portfólio da própria Credicard existiam mais portadores com renda para ter um Amex do que o próprio Amex tinha em número de cardholders. Existia um certo temor da Credicard pelo crescimento do concorrente nesta faixa de renda. Dizem que esta foi uma das razões da Credicard comprar o Diners Club, que tinha bastante superposição do público alvo com o American Express. Como contrapartida, dizia-se que o Amex, lançando o Sollo, tentou fazer o movimento inverso, lançando uma marca que competia com o Credicard na classe média.

O fato é que, concretizado o negócio, com requintes românticos de carregar listagens no meio da noite entre os dois endereços da Rua do Ouvidor (tanto o Diners Club como a filial Rio da Credicard estavam separados por poucas quadras), já que no momento de concretizar o negócio o governo estava intervindo no Sul Brasileiro, que administrava o Diners, tínhamos uma grande tarefa pela frente, que era a “unificação de maquinetas”. O trabalho consistia em visitar fisicamente cada lojista filiado à Credicard e ao Diners Club, deixando apenas uma maquineta, sinalizando as vitrines com os dois adesivos e principalmente, combinando a taxa e prazo que seriam válidas na aceitação Diners.  Como o Diners Club tinha uma estrutura diferenciada, com benefícios exclusivos, o “custo por conta” era bem maior, e o Diners precisava de uma receita maior para alcançar os resultados esperados. A solução encontrada foi aumentar a taxa de desconto para 3%, superior aos 2% cobrados no credenciamento aos estabelecimentos filiados à Credicard. Fomos a campo com esta orientação, mas o mercado não recebeu bem a novidade. Afinal, diziam os lojistas, o que o Diners nos oferece como lojistas? Eles pouco se importavam com as benesses ofertadas aos portadores. E como as vendas Diners eram bem menores, ficava difícil exemplificar o discurso que aprendemos, de que o comprovante médio era maior, que o cliente Diners era mais gastador, etc. Aos poucos começamos a ter estabelecimentos que só aceitavam Credicard, em função da menor taxa. E isso contrariava o gol de fazer do Brasil a maior rede de estabelecimentos do Diners Club International.

A solução veio em uma reunião da área de estabelecimentos da Regional Rio. Por decisão apenas nossa, decidimos equiparar as taxas e prazos, acabando com a diferenciação. Como não podia deixar de ser, equiparamos por cima, ou seja, passamos a filiar novos estabelecimentos com 31 dias de prazo e taxa de 3%, nas duas bandeiras. E sempre que possível, renegociar as taxas antigas para o novo patamar. Na primeira convenção de vendas que fizemos os resultados de rentabilidade da Filial Rio eram tão expressivos em relação às outras filiais que o procedimento virou regra. E a partir daí vieram anos e anos de prática com o famoso “31 com 3”.

Contado assim, parece fácil. Mas quem viveu a época sabe a dificuldade que foi. Mas tínhamos uma postura absolutamente inovadora junto aos lojistas, como a distribuição de displays comemorativos em todas as datas importantes do comercio (Natal, Dia das Mães, dos Namorados, etc), o mercado aceitou bem, e o que aconteceu depois foi que todos os concorrentes com o tempo adotaram os 3% como padrão.  Sem isso, dificilmente seria possível mais tarde redistribuir a arrecadação da taxa de desconto pelas mudanças no interchange pago aos emissores, como veio a ocorrer depois.  Mas isso já e outra história. Por hoje é só. Abraços a todos que trabalham ou trabalharam neste fascinante mercado de cartões.

Victor Esteves

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I’ve got you under my skin

 

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Cartão de crédito: Por que o lojista só recebe em 30 dias?

a POS 2

Quando pesquisava para escrever o livro “Do Escambo à Inclusão Financeira”, recebi um e-mail de um amigo narrando como o prazo de pagamento ao lojista, nas vendas realizadas com cartões de credito, foi alterado para 30 dias. Bem claro e elucidativo, Victor Esteves nos relata uma parte da história e nos faz entender como foi importante para a industria se defender da inflação crescente dos anos 1980.

Prezado Edson

A seu pedido, segue a história de como mudamos o mercado brasileiro no tocante aos prazos de pagamentos aos estabelecimentos.

Quando entrei nesse negócio, em 1978, a praxe era pagar aos estabelecimentos em ‘oito, seis e quatro’. Essa era a maneira pela qual nos referíamos aos prazos, porque significava que o lojista podia receber em 24 horas (com 8% de desconto), ou com 6% (pagamento em 30 dias), ou ainda com 4% (pagamento, pasmem, em 60 dias). Na prática, todo lojista fazia suas vendas através dos comprovantes de venda, que eram anexados a um Resumo de Venda, que totalizava o valor o total de vendas, o total de gorjetas (quando era o caso), aplicava a taxa escolhida de acordo com a opção de recebimento escolhida, e levava à sua agência domicílio.

Praticamente 95% das vendas, ou mais, eram depositadas para crédito em 24 horas, mediante o desconto de 8%, que só incidia sobre o valor de vendas e nunca sobre a gorjeta (quando havia), já que a Credicard não queria ‘se indispor’ com os garçons, e por isso não fazia o desconto sobre a parte da gorjeta. Nesta época, quando nem internet havia, o cliente ‘passava o cartão’ numa maquineta de plástico que gerava um comprovante de venda em três vias de papel: uma ficava com o cliente, e as outras duas, com o estabelecimento.  No final do dia, o dono do estabelecimento pegava uma dessas vias — a que seria enviada à Credicard — e as juntava num bolo:  em cima dele, colocava uma capa — o ‘resumo de venda’, no jargão da indústria — no qual constavam a razão social, o domicÍlio bancário e a expressão ‘8.6.4’. (O lojista então marcava qual desconto preferia.)

Curiosamente, existiam alguns clientes que optavam por prazos diferentes do ‘a vista’, como a Casa Sloper, que continuava usando o prazo de 60 dias para fazer jus ao desconto mínimo de 2%. Não é à toa que acabaram fechando suas portas, ficando imortalizados apenas na música que a novela ‘O Astro’ popularizou.

O crédito era feito pela própria agência bancária, e 24 horas depois estava na conta corrente do cliente. Os atendentes do banco faziam a conferência do depósito apenas somando os valores e aplicando o desconto, e não era raro que os totais, bruto ou líquido, estivessem errados, gerando as famosas (na época) Ordens de Débito. Muitas vezes os clientes sacavam o valor e as ordens de débito não conseguiam ser compensadas, gerando Ajustes a Débito que vinham para os assistentes comerciais (meu cargo na época) cobrarem em visitas pessoais. Era a pior parte do trabalho…

Com esse sistema, as fraudes eram constantes e existia uma máfia que buscava as cópias de carbono dos comprovantes de vendas, preparavam cartões usando uma fita em alto relevo que se comprava fácil na época (ROTEX, creio) e depois distribuíam isso em lojistas previamente selecionados, cúmplices da prática.

Mesmo assim o sistema como um todo funcionava bem, e em 1978 a Credicard obteve seu primeiro lucro, depois da fase terrível de 74 a 76, quando se dizia que ‘o avião Credicard’ havia perdido o rumo. Essa imagem do avião era sempre usada nos treinamentos, quando se contava a história da Credicard.

A economia, todavia, ia de mal a pior, e o Governo do General Figueiredo, mesmo com os césares da economia da época (Delfim Netto, Simonsen e Roberto Campos) não conseguia domar o ‘dragão’ da inflação. Como emissor e adquirente ao mesmo tempo, a equação de lucratividade da Credicard era relativamente simples. Havia as receitas de emissor (inscrição, anuidades e juros sobre o ‘revolving credit’), pagas pelo usuário do cartão. As receitas de adquirência, pagas pelos lojistas, vinham das taxas de desconto, unicamente.

Com o crescimento da inflação, os usuários de cartões passaram a usar ao máximo o ‘grace period’, de tal forma que a maioria dos atendimentos a portadores era para responder à pergunta de ‘qual o melhor dia para comprar’. Quanto mais perto da data de corte (fechamento da fatura) fosse a compra, maior o ‘float’ que o portador ganhava. Até que, em 1984, esse ‘float’ já se aproximava de 25 dias, e os 8% de receita do estabelecimento não cobriam mais o custo financeiro deste float, ou seja, a Credicard tinha que ir ao mercado buscar dinheiro para pagar aos estabelecimentos em 24 horas, e o custo dos 24 dias estava se aproximando ou superando a receita de 8%.

A previsão era que o negócio se inviabilizasse em pouco tempo. O chefe da operação de estabelecimentos convocou todos os gerentes e representantes comerciais ao Rio e mostrou o terrível panorama. Tratava-se de salvar o negócio, e para isso precisávamos eliminar completamente o pagamento à vista.

O objetivo era renegociar as taxas de desconto de 8% para 4% ou 2%, renegociando o prazo para 15 ou 30 dias. Fizemos um ensaio de um dia (fomos para a rua com clientes escolhidos para testar a receptividade) e lógico que os lojistas não gostaram nada da novidade. Mas o fato é que havia flexibilidade e, graças a uma campanha agressiva e a um excelente trabalho de campo, em poucos meses tínhamos mais de 80% dos estabelecimentos recebendo em 30 dias, cerca de 15% em 15 dias e apenas 5% resistiram e continuavam com pagamento à vista. Em menos de um ano esses 5% tinham cancelado ou migrado, e o negócio pôde continuar saudável — e o principal, adaptado para qualquer nível de inflação. Em alguns anos a reação tomou corpo, materializada na famosa ‘sobretaxa’, que diferenciava o pagamento em cartão do pagamento em dinheiro, em uma variação normalmente de 10% de desconto para quem pagasse em ‘cash’.

Essa é a história. Qualquer dia, se te interessar, te conto como é que as taxas cresceram de 2% para até 5% e porque os prazos subiram para 31 dias. Acredite se quiser, isso se deve à compra do Diners pela Credicard, em 1985. E em 1986, o plano Cruzado fez nova mexida nas taxas, mas a Credicard novamente conseguiu se dar bem, enquanto outros cartões, como o Nacional, quase quebraram e geraram a demissão do presidente da época.

abraços, Edson,

Victor Esteves

Assim, enquanto no mundo inteiro o banco emissor do cartão de crédito é quem faz o funding para todo o sistema de pagamentos, no Brazil, por conta de uma inflação crescente, a líder Credicard alterou o prazo de pagamento ao lojistas a ponto de transformar um float negativo de 24 dias, para um float positivo de 5 dias.

Como resultado, o varejo brasileiro passou a financiar o sistema de pagamentos com cartão de crédito. Uma clara transferência de renda do comercio para o setor bancário.

Vale lembrar que em 1984, pouco menos de 100 mil lojistas aceitavam cartões de crédito no Brasil e se localizavam somente nas grandes cidades. O volume de vendas com cartões era relativamente pequeno ou quase nada, quando comparando aos 32% de penetração no consumo privado das famílias brasileiras de hoje. Além disso, o lojista já financiava seus clientes através de cadernetas, carnês e cheques pre-datados. Não foi difícil aceitar as condições impostas na época.

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Mudanças “à vista”

A POS

Veja a matéria de Geraldo Samor – Brasil Journal – sobre a possível redução de prazo na liquidação das transações com cartões de crédito junto aos varejistas. A matéria afirma que o Banco Central pretende reduzir o prazo para pagamento ao lojista, de 30 dias para 2 dias, nas vendas efetuadas através de cartões de crédito.

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O futuro é agora

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Quantas vezes ouvimos que os pagamentos se tornaram móveis, simples e seguros? lembra do post “Tecnologia e comportamento”?

Ja dissemos que o ato de pagar se tornará invisível, ou seja, se dará “atraz do palco” (back stage). Um exemplo esta no post “Imagine pagar sem mesmo levantar o dedo”

Isso tudo já é realidade em alguns mercados e deve seguir sua evoloção natural, sendo adotodo, cada vez mais, por consumidores e varejistas.

Entretanto, a Amazon foi muito além. Ao decidir abrir lojas físicas, investiu e desenvolveu tecnologia para produzir uma experiência fantástica. Veja o video “Amazon Go”, é auto explicativo.

A tecnologia avança de forma surpreendente. Mudamos produtos e processos com rapidez exponencial, gerando novas formas de atender nossos clientes. Algumas dessas inovações são parte da evolução natural, mas outras são disruptivas. Qual será a proxima novidade? Virá de um concorrente conhecido ou de outra frente nunca antes pensada?

As FinTech estão aí para tomar bons lugares e mostrar como se faz. O futuro é agora!

 

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Varejistas vão ao CADE contra a Cielo

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Em setembro de 2014 publicamos um “white paper” sob o título “O LENTO PROGRESSO DA COMPETITIVIDADE NA INDÚSTRIA DE MEIOS DE PAGAMENTO”. Dois anos depois a situação mudou muito pouco. Entretanto, uma denúncia coletiva no CADE contra a líder do mercado pode dar novo rumo às discussões em curso.

Veja a matéria de Natalia Viri, do Brazil Journal: “Varejistas vão ao CADE contra a Cielo”

A denúncia é assinada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Associação Nacional de Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco), Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).