Excelente artigo publicado por Steven Q. Riddick, Director of Global Product Delivery da Global Payments. Vale a pena ler:
Categoria: Empreendorismo
Material retirado do livro “Do Escambo à Inclusão Financeira” – A Evolução dos Meios de Pagamento, publicado em novembro de 2014.
A mineração
O processo de mineração significa realizar uma série de cálculos matemáticos complexos para criar blocos adicionais na “cadeia de blocos” [block chain em Inglês], em que os mineiros são recompensados com 25 Bitcoins. A solução é então transmitida para toda a rede, e a competição por um novo bloco (e sua recompensa de vinte e cinco moedas) recomeça.
No começo, qualquer um armado com um computador comum pode baixar e executar o software BTC e obter (ou “minerar”) Bitcoins. Quanto mais poder de computação você puder dedicar à tarefa, melhor as chances de chegar em primeiro lugar em cada solução. Esta característica do sistema, pelo projeto, resultou em uma espécie de corrida computacional. Quatro anos depois do início do projeto Bitcoin, somente máquinas muito poderosas têm musculatura suficiente para manter o ritmo com os “mineradores” existentes na rede.
Desta forma, BTCs são extraídos como o ouro costumava ser, em quantidades pequenas em relação ao total, de modo que o fornecimento cresce lentamente. O nível de complexidade de mineração é regulado de modo a criar um fornecimento pré-estabelecido de novas moedas até o limite de 21 milhões de moedas incorporadas ao software; o último deverá ser extraído em 2140. Depois disso, presume-se que haverá bastante tráfego para manter benefícios que fluam na forma de taxas de transação, em vez de mineração novas moedas.
Da perspectiva do usuário, Bitcoin não é nada mais do que um programa aplicativo ou computador móvel que oferece uma carteira BTC pessoal e permite a ele enviar e receber bitcoins com eles. Nos bastidores, a rede Bitcoin compartilha uma contabilidade pública chamada “cadeia de blocos”. Esse livro-caixa contém todas as transações já processados, permitindo que o computador do usuário possa verificar a validade de cada transação. A autenticidade de cada transação é protegida por assinaturas digitais correspondentes com os endereços de envio, permitindo que todos os usuários tenham controle total sobre o envio de BTCs dos seus próprios endereços Bitcoin.
Um endereço é como uma conta bancária em que um usuário pode receber, armazenar e enviar Bitcoins. Em vez de ser protegido fisicamente em um cofre, BTCs são protegidos com criptografia assimétrica (chave pública – chave privada). Cada endereço consiste em uma chave pública, do conhecimento de todos, e uma chave privada – que o proprietário deve manter em segredo. Qualquer pessoa pode enviar Bitcoins para outra, utilizando a chave pública, mas apenas a pessoa com a chave privada pode gastá-los, seja transferindo para outra pessoa, seja fazendo um pagamento por uma produto ou serviço. Embora os endereços sejam públicos, ninguém sabe quais endereços pertencem a quais pessoas: endereços BTC são pseudônimos.
Depois de depositar seus Bitcoins em uma “carteira”, a carteira alerta [broadcasts] todos os outros usuários de BTC que ela contém Bitcoins. Esta informação é incorporada na cadeia de blocos. A carteira gera uma chave pública acessível a qualquer um e uma chave privada ou endereço que autoriza o envio de Bitcoins para outros endereços públicos.
Quando um usuário perde a carteira BTC, é o mesmo que estivesse perdendo uma carteira convencional. Bitcoins perdidos ainda permanecem na cadeia de bloco, assim como quaisquer outras BTCs, no entanto, ficam em estado dormente para sempre, porque não há maneira de alguém encontrar a chave privada que lhes permitiriam ser utilizados novamente.
Marc Andreessen, co-fundador da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, tem uma boa definição de como BTC funciona: “Bitcoin é uma contabilidade pública distribuída em toda internet”. Você “compra” uma “vaga” na contabilidade, seja “minerando”, com dinheiro ou com a venda de um produto e serviço. Você “vende” saindo da contabilidade e negociando sua BTC para alguém que quer entrar na contabilidade. Qualquer um no mundo pode comprar ou vender sua posição na contabilidade a qualquer hora que quiser – sem a necessidade de aprovação e com taxas muito baixas (ou mesmo sem taxa alguma). As “moedas” Bitcoin em si são simplesmente lançamentos no livro-razão, semelhantes, de alguma maneira, aos assentos em uma bolsa de valores, com a diferença que serem muito mais amplamente aplicáveis às operações do mundo real.
A contabilidade Bitcoin é um novo tipo de sistema de pagamento, sem a necessidade de um controle central para autorizar a transação, e em muitos casos, sem taxas. Essa última parte é extremamente importante. BTC é o primeiro sistema de pagamento no mundo onde as transações acontecem sem taxas ou com taxas muito baixas (frações de centavos). Sistemas de pagamento existentes cobram taxas de cerca de 2 a 3% – em mercados competitivos – ou significativamente mais elevadas.
Uma ótima analogia ao Bitcoin é a descoberta do antropólogo norte-americano Willian Henry Furness III que, depois de passar diversos meses na ilha de Yap (localizada no Pacífico e, naquela época, com uma população de 5 ou 6 mil habitantes), escreveu um livro sob o titulo A ilha da moeda de pedra [The Island of Stone Money], publicado em 1910. Com o mesmo título, o renomado economista Milton Friedman, escreveu o famoso artigo publicado em 1991. Para não perder a narrativa, faço aqui uma livre tradução de um trecho do texto original:
“ (…) [como] sua ilha produz nenhum metal, eles recorrem à pedra, cujo dispêndio de trabalho em buscar e confeccionar é tão verdadeiramente uma representação do trabalho como as moedas mineradas e cunhadas da civilização.
Seu meio de troca que eles chamam de “fei” consiste em pedras sólidas, grossas trabalhadas tal como rodas com diâmetro que variam de um a 12 pés, tendo no centro um buraco grande o bastante para ser inserido um poste forte o suficiente para suportar o peso e facilitar o transporte. Essas “moedas” de pedra [feitas de calcário encontrado em uma ilha à cerca de 400 milhas de distância onde] foram originalmente extraídas formatadas e trazidas para Yap por alguns ousados navegadores nativos, em canoas e em jangadas (…)[uma] característica notável desta pedra moeda (…) é que não é necessário para o seu proprietário exercer sua posse. Depois de concluir um negócio que envolve o preço de um “fei” muito grande para ser convenientemente movido, seu novo proprietário fica satisfeito em aceitar o reconhecimento de sua propriedade e, sem mesmo uma marca para indicar a troca, a moeda permanece em repouso nas instalações do antigo proprietário.
Meu velho e fiel amigo, Fatumak, garantiu-me que havia na aldeia próxima, uma família cuja riqueza era inquestionável, reconhecida por cada um, e ainda assim ninguém, nem mesmo a própria família, já tinha posto os olhos ou as mãos nessa riqueza que consistia de um enorme “fei”, cujo tamanho é sabido apenas por tradição; e assim tem sido nas últimos duas ou três gerações; naquele momento, [a pedra] está repousada no leito do mar.
Muitos anos atrás, um ancestral dessa família, em uma expedição na busca por “fei”, garantiu que esta pedra extremamente grande e valiosa, foi colocada em uma balsa para ser rebocada para casa. Uma violenta tempestade se levantou, e os tripulantes, para salvar suas vidas, foram obrigados a deixar a balsa à deriva, e a pedra afundou longe de suas vistas. Ao chegar em casa, todos eles testemunharam que o “fei” era de proporções magníficas e de qualidade extraordinária e que se perdeu, não por culpa do proprietário. Então ela (a pedra) foi universalmente admitida (…) e o mero acidente de sua queda no mar foi muito insignificante. Afinal, o fato de estar a algumas centenas de metros abaixo da água não deve afetar seu valor de mercado, uma vez que foi cortada da forma correta. O poder de compra da pedra permanece, portanto, como válido como se [a pedra] estivesse apoiada visivelmente contra a lateral da casa do proprietário …”
Material retirado do livro “Do Escambo à Inclusão Financeira” – A Evolução dos Meios de Pagamento, publicado em novembro de 2014.
Como surgiu o Bitcoin
Em 2008, Satoshi Nakamoto, o fundador do Bitcoin, cuja verdadeira identidade não é conhecida, habilmente combinou tecnologias existentes de rede entre pessoas (peer-to-peer), técnicas de criptografia, assinaturas digitais e o poder potencial de efeitos de rede para projetar e desenvolver o sistema BTC. Nakamoto foi muito claramente motivado neste esforço pela precipitação da crise financeira daquele ano. Quando o experimento foi lançado e as primeiras 50 Bitcoins (o chamado “bloco genesis”) foram “mineradas”, em janeiro de 2009, ele (ou ela, ou eles) incluiu a seguinte linha de texto no primeiro bloco de Bitcoin que corresponde à manchete do jornal The Times daquele dia: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for Banks”[em tradução livre, algo como “Em 3/1/2009, Chanceler à beira de segundo resgate para os bancos”]. Decerto, Nakamoto estava querendo provar com aquela manchete que aquele era de fato o primeiro bloco, não existindo nenhum outro antes desse. Além disso, a manchete do jornal The Times escolhida por ele revela, de certa forma, sua motivação política.
Até seu completo desaparecimento da web, no segundo trimestre de 2012, Nakamoto foi um dos participantes mais ativos em fóruns de criptografia, em que ele discutia Bitcoin livremente, chegando a publicar um documento de nove páginas descrevendo os detalhes do projeto. Uma revisão informal de vários posts e comentários de Nakamoto confirma que, desde o início, BTC foi concebido como um sistema para a eliminação da possibilidade de corrupção a partir da emissão e troca de moeda. Ou, dito de outra maneira: em vez de confiar nos governos, bancos centrais e outras instituições de terceiros para garantir o valor das transações em moeda e de garantias, Bitcoin iria colocar na rede a sua confiança em matemática.
Nakamoto chegou a escrever, em fevereiro de 2009, um post no blog da Fundação P2P – organização internacional focada em estudar, pesquisar, documentar e promover práticas peer to peer [arquitetura de redes de computadores onde cada um dos pontos ou nós da rede funciona tanto como cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados sem a necessidade de um servidor central, gerando conhecimento comum e colaborativo]. Nesse post, ele descrevia a diferença entre BTC e a moeda fiduciária:
“[Bitcoin é] completamente descentralizado, sem servidor central ou partes confiáveis, porque tudo é baseado em prova de criptografia em vez de confiança. A raiz do problema com a moeda convencional é toda a confiança necessária para fazê-la funcionar. O banco central deve ser confiável para não desvalorizar a moeda, mas a história de moedas fiat é cheia de transgressões dessa confiança. Os bancos devem ser confiáveis para guardar o nosso dinheiro e transferi-lo eletronicamente, mas eles emprestam em ondas de bolhas de crédito com apenas uma fração de reserva. Temos que confiar neles quanto à nossa privacidade e confiar neles para não deixem os ladrões de identidade drenar nossas contas (…) Com a moeda digital baseada na prova de criptografia, sem a necessidade de confiar em um intermediário, o dinheiro pode ser seguro e as transações, realizadas sem esforço.”
Por um lado, o Bitcoin restaura o dinheiro como uma forma de propriedade, com a atribuição de títulos de propriedade. O que está sendo negociado não é uma relação de confiança, mas um recurso de propriedade. A este respeito, BTC recorda a honestidade e integridade do padrão ouro-moeda.
Por outro lado, Bitcoin nos atira para a frente no tempo, fazendo a troca monetária geograficamente possível entre dois indivíduos no planeta, independentemente deles terem uma conta bancária ou cartão de crédito. Esta é a característica que faz um cripto-padrão ser muito melhor que qualquer padrão ouro proposto.
BTC vem ganhando um enorme destaque na mídia mundial como nenhum outro assunto. Entretanto, há uma enorme lacuna de conhecimento e entendimento entre o que imprensa, governos e pessoais normais pensam e o que a crescente massa de tecnologistas e estudiosos no assunto acreditam que Biticoin é.
Muito do que foi escrito até agora sobre Bitcoins centrou-se na percepção dos perigos de seu relativo anonimato, a irreversibilidade de transações e deles poderem ser usados para lavagem de dinheiro e transações criminosas. Além disso, o fato de seu criador permanecer em total anonimato cria um ambiente de mito. Este comportamento ditado pelo “medo” tem impedido a avaliação racional dos potenciais benefícios e deficiências da cripto-moeda. Ora, dinheiro também é anônimo; ele também é usado em lavagem de dinheiro e transações ilegais. Tal como BTCs, dinheiro roubado é difícil de se recuperar, e uma transação em dinheiro não pode ser facilmente rastreada até a fonte. Quando uma identidade é roubada, também não há recurso imediato para a reversão de transações, como com cobranças de cartão de crédito ou reembolsos bancários. No entanto, é difícil acreditar que qualquer um que tenha escrito criticamente sobre os perigos do Bitcoin preferiria uma economia em que as transações em dinheiro privadas fossem ilegais.
Em primeiro lugar, Bitcoin em seu nível mais fundamental é um avanço na ciência da computação – que se baseia em 20 anos de pesquisa em moeda criptográfica, e 40 anos de pesquisa em criptografia, por milhares de pesquisadores ao redor do mundo. BTC é a primeira solução prática para um problema antigo na ciência da computação chamado de “Problema dos generais bizantinos”.
Imagine um grupo de generais do exército bizantino (época do Império Romano do Oriente, entre os anos de 330 a 1453) acampado com suas tropas em torno de uma cidade inimiga. Comunicando-se somente por mensageiros, os generais devem combinar um plano de batalha. No entanto, um ou mais deles podem ser traidores que vão tentar confundir os outros. O problema é encontrar um algoritmo para assegurar que os generais leais irão chegar a um acordo comum. De forma geral, o problema coloca a questão de como estabelecer a confiança entre partes não-relacionadas em uma rede não-confiável como é o caso da Internet.
A solução que Bitcoin introduz é justamente esta: todos os generais começam a trabalhar em um problema matemático que, estatisticamente, deveria demorar 10 minutos para ser resolvido se todos os envolvidos trabalharem nele. Uma vez que um deles encontra a solução, ele transmite essa solução para todos os outros generais. Todo mundo então começa a trabalhar na extensão dessa solução – que mais uma vez deve levar mais dez minutos. Cada general sempre começa a trabalhar na extensão da solução mais longa que ele já viu. Depois que uma solução for estendida 12 vezes, cada general pode ter certeza de que nenhum inimigo controlando menos da metade dos recursos computacionais poderia ter criado uma outra cadeia de comprimento similar. A existência da cadeia de 12-blocos é a prova de que a maioria deles teve participação na sua criação. Nós chamamos isso de um esquema de “prova de trabalho”.
A consequência prática de resolver este problema é que Bitcoin nos dá, pela primeira vez, uma maneira de um usuário da Internet transferir uma peça de propriedade digital única para outro usuário da Internet, de modo que a transferência seja garantida por ser segura, transparente (todo mundo sabe que a transferência ocorreu), e ninguém pode contestar a legitimidade dessa transação.
Pense sobre assinaturas digitais, contratos digitais, chaves digitais (para fechaduras físicas ou para cofres virtuais), a posse digital de ativos físicos (como carros e casas, ações digitais e títulos)… e dinheiro digital. Com o uso da tecnologia de Bitcoin, todos esses ativos poderão ser trocadas através de uma rede distribuída de confiança entre pessoas, que não requer ou depende de nenhuma autoridade central ou intermediários. E tudo de forma que apenas o proprietário de um ativo possa enviá-lo, somente o destinatário pode recebê-lo, o ativo somente pode existir em um lugar de cada vez, e todos podem validar transações e propriedade de todos os bens a qualquer instante.
Embora existam ou tenham existido pelo menos 110 outras moedas digitais, Bitcoin é responsável por 77% do valor de mercado de todas as moedas digitais e por uma porcentagem ainda maior de usuários de moeda digital. Por isso a utilizamos como modelo sobre esta nossa discussão sobre moeda digital.
Os meios de pagamento se tornam cada vez mais simples, fácil de utilizar, rápidos, seguros e mais baratos. Até aqui nenhuma novidade, certo?
Segurança e simplicidade nem sempre combinam muito bem, afinal o ato de autenticar o pagador é um dos processos que requer cuidados e nem sempre é simples.
Em uma transação de pagamento, independentemente do valor, há que estabelecer a confiança entre as partes afim de que o pagamento seja concluído. Assim, quando ofereço pagar com um cartão de crédito de uma bandeira conhecida, o recebedor, desde que seja credenciado à um acquirer, normalmente se sente confortável e seguro de receber o pagamento.
Entretanto, o que parece ser uma transação simples (e de fato é, se compararmos com outras formas de pagamento) envolve uma série de processos de comunicação, processamento e logística, além de requerer um terminal de captura, um cartão de pagamento, uma senha, etc.
Que tal eliminar o cartão e utilizar outro tipo de terminal de captura? Deixe sua carteira em casa! Este é o convite da Keyo, uma FinTech de pagamento que vê o futuro na palma de sua mão.
Utilizando biometrica como forma de autenticar e acessar a carteira eletrônica do pagador, a Keyo testa em algumas lojas na cidade de Chicago. O vídeo é autoexplicativo! Mas se trata de uma plataforma de pagamento biométrica que mapeia o padrão de vasos sanguíneos da palma da sua mão para criar um identificador biométrico exclusivo conectado ao seu cartão de crédito ou cartão de débito.
Veja a matéria de Karis Hustad no ChicagoInno.
A notícia publicada pela Olga Kharif, da Bloomberg, sob o título: GM e Mastercard querem que carros paguem contas, mostra que diversas montadoras estão investindo em mobile payments, afim de oferecer uma nova experiência aos seus clientes na hora de pagar por combustível, estacionamento, pedágio, drive-thru, etc.
Uma tendência natural que já discutimos nesse blog em “O futuro é agora”. O pagamento se tornará cada vez mais invisível. O cliente decide o que consumir e o pagamento passa ser uma feito automaticamente. Muito de nós não vemos problemas ao automatizar pagamentos de pequena monta, principalmente relacionados ao consumo de produtos e serviços do dia-a-dia, como por exemplo, o cafezinho, almoço, Uber, o jornal, estacionamento, etc..
Mas por que, empresas como GM, Ford, VW, etc, querem “participar” do negócio de pagamentos? Você compraria um modelo diferente só porque vem com essa facilidade? Acredito que não.
Entretanto, a resposta pode ser simples, muitos fabricantes ainda mantém uma relação muito distante de seus consumidores. Analise, por exemplo, o seu caso com as montadoras de veículos. Quantas vezes você trocou de carro, algumas vezes da mesma marca, mas parece que para o revendedor e a montadora você está lá pela primeira vez. Eles não sabem nada a seu respeito nem como você utiliza seus produtos. Não são somente as montadoras, mas há uma grande distância entre o produtor e consumidor em diversos setores da economia.
Eureka!!!
Se as montadores puderem saber por onde você “roda”, o que consome, quando consome, etc. aí sim, saberiam algo a seu respeito e eventualmente poderiam lhe oferecer serviços e produtos adequados ao seu estilo, gosto e bolso. Afinal, na hora de fazer algum pagamento é que eventualmente revelamos quem somos, ao utilizar os meios eletrônicos de pagamento. Certamente isto não aplica a moedas virtuais como BitCoin.
Utilizando IoT (“Internet of Things”), ou seja, conectando seu veículo à internet e lhe oferecendo simplicidade e praticidade para fazer pagamentos, as montadores poderão reunir uma quantidade de informações importantes sobre os hábitos de seus clientes e, de certa forma, reduzir drasticamente a distância que existe entre fornecedor e consumidor. Muitas outras empresas tentarão fazer o mesmo, afinal, quanto vale essa informação?
Você concorda? deixe seu comentário!
“Vamos avançar significativamente rápido na ampliação e facilidade de comunicação entres as pessoas. Seguindo a tendência da desmaterialização, daqui a pouco tempo não será necessário carregar um aparelho celular da forma como fazemos hoje. Ele fará parte da nossa vestimenta e do nosso corpo. Combinando biotecnologia, neurotecnologia e tecnologia da informação, será possível implantar dispositivos (microchips) capazes de nos auxiliar em diversas tarefas do dia a dia, incluindo ligar para alguém, acessar uma informação ou fazer pagamentos.” texto retirado do livro Do Escambo à Inclusão Financeira – A Evolução dos Meios de Pagamento, lançado em Novembro de 2014.
Desde então, várias notícias nos contam sobre pessoas e seus novos hábitos, como a matéria de Bruno Capelas, publicada em O Estado de São Paulo, em 01/01/2017:
Após ‘vestíveis’, biochips abrem nova fronteira e já têm adeptos no Brasil
Do tamanho de um grão de arroz, biochips implantados sob a pele poderão ser usados para monitorar saúde e até fazer pagamentos; para funções básicas pode ser comprada no País por cerca de R$ 300
Acompanhar a evolução da tecnologia nas últimas décadas é perceber que, com o tempo, os dispositivos estão cada vez menores e mais próximos de nós. Se há décadas os computadores eram enormes e distantes, hoje é difícil pensar em um dia inteiro longe de um smartphone – isso para não falar em relógios inteligentes. Quem pensa, porém, que o Apple Watch e similares são a fronteira final está bem enganado: o próximo passo são os biochips, dispositivos que podem ser “instalados” dentro do corpo humano.
Colocar chips dentro do corpo humano não é uma ideia exatamente nova: equipamentos médicos como marca-passo, por exemplo, já existem há pelo menos três décadas. No caso do implante coclear, utilizado em tratamentos de deficiência auditiva, um chip inserido no ouvido interno decodifica sons captados por um microfone e os transforma em impulsos elétricos, que possam ser identificados pelo nervo auditivo. “A tecnologia vem evoluindo, no software e no hardware. Hoje, mais de 700 mil pessoas são implantadas no mundo”, diz o professor Ricardo Bento, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Substituto. O implante de biochip é um procedimento simples. “É como colocar um piercing”, diz a artista plástica Lina Lopes, que há dois meses leva consigo um chip de NFC em sua mão esquerda, alinhado ao seu dedo indicador. “O chip vem dentro de uma agulha de 2 milímetros, como a que é usada para doar sangue. É preciso esterilizar a área e colocar a agulha”, explica Lina, que implantou o chip da marca brasileira Project Company, de Maringá (PR). Há risco de infecção, mas segundo profissionais ouvidos pelo Estado, colocar um chip traz menos riscos do que um piercing.
A principal função do dispositivo de Lina hoje é divulgar seu trabalho: ao passar sua mão perto de um smartphone com NFC, o chip envia um comando para abrir o perfil da artista plástica no Instagram. Lina se diverte ao ser chamada de ciborgue por ter um eletrônico na mão. “É uma tecnologia tão simples que está mais para uma lata de Pomarola”, brinca.
Projetado no Brasil e fabricado por parceiros da Project Company, o chip utilizado por Lina é vendido por R$ 300. “Estamos montando uma rede de estúdios de piercing para ajudar nossos clientes”, explica Antonio Diamin, sócio da startup, que começou a vender biochips no início de 2016. Até agora, a empresa vendeu cerca de cem chips.
Segurança. Uma outra questão frequente a respeito dos biochips é a sua capacidade de serem invadidos por hackers – afinal, mais do que um ataque, trata-se de uma intrusão no corpo de outra pessoa.
De acordo com Fábio Assolini, analista da empresa de segurança Kaspersky, a principal preocupação hoje com os biochips deve ser quanto à criptografia dos dados presentes nos dispositivos. “A tecnologia de comunicação por campo próximo é passiva: ela só transmite dados se passar perto de um leitor, como um smartphone ou um computador”, explica Assolini. “Ao passar perto do leitor, os dados serão capturados – se estiverem protegidos, só poderão ser decifrados por programas que tiverem a devida autorização.”
Segundo Assolini, os biochips podem se tornar mais vulneráveis quando evoluírem e se tornarem dispositivos conectados diretamente à internet, por exemplo. “Existe um axioma em segurança da informação: onde há software, há vulnerabilidade”, diz. O analista, porém, acredita que, por enquanto, há pouco para se preocupar. “Problemas de segurança e tentativas de ataques só começam a aparecer depois que há adoção massiva da tecnologia”, explica.
“O maior risco que vejo é o de sequestro de dados: isto é, se o usuário não proteger seu próprio biochip e uma pessoa mal intencionada alterar os dados do dispositivo”, diz Raphael Bastos, primeiro brasileiro a ter um chip implantado.
Outra preocupação do brasileiro diz respeito à privacidade dos dados que possam ser coletados pelo biochip – hoje, o País não possui uma lei específica sobre o tema. Tramita desde maio na Câmara dos Deputados um projeto de lei de proteção de dados pessoais – atualmente, o projeto aguarda apreciação de uma comissão especial, e não tem previsão para ser votado.
‘Marca da Besta’. Quem faz uma busca rápida no Google por “biochips” vai perceber: sites e textos que explicam a tecnologia costumam ficar em segundo plano nas pesquisas – a maioria dos resultados são de portais religiosos, que acusam os biochips de serem uma representação diabólica. A origem está no livro do Apocalipse, que diz que “a marca da Besta” aparecerá “na mão direita ou na testa”.
Para Raphael Bastos, primeiro brasileiro a ter um biochip no corpo, a questão religiosa pode ser um entrave no avanço da tecnologia. “Já cheguei até a receber ameaças de morte, e pedi autorização para ter porte de armas por isso”, conta. Para o norte-americano Amal Graafstra, dono da loja de biochips Dangerous Things, a discussão pode ser resolvida de forma mais prosaica. “A marca da besta já foi associada a cartões de crédito e códigos de barra, também, mas se você se preocupa com isso e ainda assim quer ter um chip, é simples: coloque na mão esquerda.”