Categorias
Banco Central Carteira Digital Cartões de Pagamento Credenciadora Digital Emissor Empreendorismo FinTech Inclusão Financeira Meios de Pagamento Mobile Payments Payments Regulamentação

PIX invoca a disrupção

Veja a matéria de Ademir Morata, publicada no site Catarino Brasileiro sob o título: “PIX INVOCA A DISRUPÇÃO E PROCLAMA A REVOLUÇÃO DOS PAGAMENTOS NO BRASIL”, reproduzida abaixo.

INSTRUMENTO DEVE REDUZIR PELA METADE A CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO EM PAPEL NOS VALORES PAGOS PELO CONSUMIDOR BRASILEIRO EM DEZ ANOS

por Ademir Morata

m seu livro Bold, lançado em 2016, o fundador executivo da Singularity University, Peter H. Diamandis, desenvolveu o conceito dos 6 Ds, que permitem uma melhor compreensão das características existentes nas tecnologias exponenciais. Não resta dúvida de que todos os Ds dessa teoria estão claramente presentes no projeto do PIX, marca criada pelo Banco Central para o novo sistema de pagamentos instantâneos que deverá entrar em vigor no mês de novembro e promete revolucionar a indústria de pagamentos no Brasil. 

Só para exemplificar o poder de modificar a estrutura vigente, após o início de sua operação de forma plena, o PIX deve eliminar cerca da metade dos valores pagos em dinheiro (papel) pelo consumidor brasileiro num prazo de dez anos. A afirmação está contida no estudo “Pagamentos Instantâneos em contexto. Como pagamos: passado relembrado, presente vivido e futuro imaginado”.

O trabalho desenvolvido pela Boanerges & Cia., consultoria especializada em varejo financeiro, e obtido com exclusividade por este Anuário, afirma que, ao longo de 2020, cerca de 29% de todos os valores pagos pelos consumidores brasileiros acontecerão com a utilização do dinheiro vivo (notas e moedas). Mas, a partir da entrada em operação do PIX, essa proporção começará a diminuir rapidamente. 

A estimativa é de que, com esse novo método, em dez anos a movimentação de notas e moedas na economia do país caia pela metade. Assim, em 2030, apenas cerca de 14% a 15% dos valores pagos pelos consumidores serão feitos pelo instrumento mais tradicional, com a tendência de continuar diminuindo nos anos seguintes.

Se essas previsões se confirmarem dentro de um cenário considerado conservador, em 2030 os pagamentos instantâneos já movimentarão um montante de 831 bilhões de reais, o que representaria 15% de um total de 5,6 trilhões, que serão movimentados no consumo privado brasileiro naquele ano. Enquanto isso, uma visão mais agressiva prevê que esse tipo de solução já terá conquistado 24% desse montante e movimentará 1,37 trilhão de reais.

O presidente da Boanerges & Cia., Boanerges Ramos Freire, comenta que a estimativa revela o poder transformador dessa ferramenta na história dos pagamentos do país. “Os cartões, por exemplo, que foram criados na década de 50, levaram quase setenta anos para se igualar ao dinheiro e superá-lo, fato que só aconteceu em 2019. Agora, com os pagamentos instantâneos, teremos uma nova ultrapassagem, com inversão de posição conquistada em apenas uma década”, explica. 

Segundo ele, toda essa transformação se dará principalmente em função dos benefícios reais que os pagamentos instantâneos oferecerão para os diversos participantes envolvidos nas transações de pagamentos.

OS 6 DS APLICADOS E O PODER DE DISRUPÇÃO DO PIX

O consultor e adviser de startups, Edson Santos, também autor do livro Do escambo à inclusão financeira – A evolução dos meios de pagamento, afirma que a estrutura montada pelo Banco Central oferece todas as condições para o PIX alcançar o patamar de uma tecnologia disruptiva conforme o conceito dos 6 Ds mencionados por Peter H. Diamandis.

Segundo ele, tudo que conhecemos hoje em termos de plataformas de pagamento são estruturas legadas construídas ao longo dos últimos setenta anos que foram sendo melhoradas para responder a cada nova necessidade. Ao contrário disso, o PIX está nascendo em um contexto novo, já desenvolvido para atuar de forma completamente digital.

“O coração do PIX é a nova câmara de liquidação que o BC construiu. Ela permitirá um acesso totalmente fácil, que dará condições para o crescimento exponencial de sua utilização”, explica.

Segundo ele, os 6 Ds aparecem da seguinte forma:

1º D – Digitalização – Acesso e utilização fácil por telefone celular, por exemplo.

2º D – Decepção – Edson Luis não acredita que o PIX terá algum momento de decepção, do ponto de vista do sentimento de fracasso, mas explica que esse item do conceito pode se referir ao momento de aculturação, enquanto a curva de crescimento de sua utilização pode não parecer tão ascendente.

3º D – Desmaterialização – Eliminação da necessidade de papel (notas), moeda, cartão, POS, código de barras etc.

4º D – Desintermediação – Irrelevância de operações mediadoras do processo.

5º D – Desmonetização – Sem intermediários, acontece a redução de custos, o corte de despesas.

6º D – Democratização – Com menos custos e mais facilidade, o sistema oferecerá o acesso a uma maior parcela da sociedade.

“Ao criar um instrumento fácil de ser utilizado por todos os brasileiros, com custos residuais ou até zero, o PIX promoverá a inclusão dos cerca de 45 milhões de desbancarizados, depois uma disrupção do papel-moeda e, na sequência, fará o mesmo em todos os serviços que alguém possa criar para utilizá-lo como  meio de pagamento”, diz.

PRODUTOS FINANCEIROS INVISÍVEIS E O FATOR WHATSAPP

O dataminer da Distrito Fintech, empresa de inovação aberta que atua junto a startups, Eduardo Fuentes, condiciona a velocidade da substituição do dinheiro em papel pelo PIX à intensidade da adesão dos desbancarizados ao produto. 

“Se não houver soluções e não forem criadas as condições ideais para conseguir atender a eles de forma digital, vai continuar sendo difícil tirar o dinheiro de papel de circulação”, comenta.

O PIX PROMOVERÁ A INCLUSÃO DOS CERCA DE 45 MILHÕES DE DESBANCARIZADOS, DEPOIS UMA DISRUPÇÃO DO PAPEL-MOEDA

O especialista afirma que outra tendência decorrente do PIX será o consumo de produtos financeiros de forma invisível. “Será uma continuação das nossas atividades cotidianas. Estaremos conversando em aplicativos de mensageria ou por e-mail e faremos nossas transações financeiras por ali mesmo, sem precisar ir ao internet banking ou a aplicativos exclusivos das instituições financeiras”, disse. 

Em relação a isso, o mês de junho trouxe o anúncio da liberação pelo WhatsApp para que seus usuários no Brasil passem a usar o recurso de envio de dinheiro e a realizar pagamentos diretamente pelo aplicativo.

A princípio, a funcionalidade estaria disponível para usuários dos cartões de débito e crédito das bandeiras Visa e Mastercard emitidos pelo Banco do Brasil, Nubank e Sicredi. Apesar disso, a empresa ressaltava na ocasião que o programa seria aberto e facilitaria a entrada de mais participantes no futuro. 

Em comunicado publicado no site do app, a instituição afirmou que mais de 10 milhões de micro e pequenas empresas movimentam a economia brasileira, e já é muito comum entre seus clientes o envio de mensagens pelo WhatsApp para tirar dúvidas sobre produtos e fazer pedidos. “Com o recurso de pagamentos no WhatsApp, além de ver os produtos no catálogo, os clientes também poderão fazer o pagamento do produto escolhido sem sair desse aplicativo de mensagens. Ao simplificar o processo de pagamento, esperamos ajudar a trazer mais empresas para a economia digital e gerar mais oportunidades de crescimento”, dizia o texto.

Ocorre que a notícia gerou apreensão nas instituições financeiras e nos órgãos reguladores do país, devido ao potencial de concentração que o aplicativo representa. 

Para reduzir a tensão, o próprio WhatsApp manifestou interesse em trabalhar em conjunto com o BC e auxiliar o desenvolvimento do PIX. Mesmo assim, no dia 23 de junho o Banco Central determinou à Visa e à Mastercard que suspendessem o início das atividades ou interrompessem imediatamente a utilização do WhatsApp para iniciação de pagamentos e transferências de recursos. 

A alegação foi de que o eventual início ou continuidade das operações sem a prévia análise do regulador poderia gerar danos irreparáveis ao SPB notadamente no que se refere à competição, eficiência e privacidade de dados. O BC afirmou ainda que a decisão tem como objetivo preservar um adequado ambiente competitivo, que assegure o funcionamento de um sistema de pagamentos interoperável, rápido, seguro, transparente, aberto e barato.

CONSUMIDOR AGUARDA A DISRUPÇÃO DOS PAGAMENTOS INSTANTÂNEOS

Se depender do desejo do consumidor brasileiro, todas as profecias a respeito da invasão do mercado pelo PIX irão se cumprir. De acordo com pesquisa divulgada recentemente pela Mastercard, cerca de 75% dos entrevistados gostariam de poder pagar em tempo real independentemente do provedor de serviços financeiros, enquanto 53% gostariam de utilizar essa forma de pagamento por meio de aplicativos de mensagens ou mídias sociais.

“Os brasileiros desejam incluir essa modalidade de pagamento em suas vidas e esperam que as instituições financeiras trabalhem para que essa seja uma realidade no futuro próximo. Para que isso se torne possível, devemos seguir trabalhando no desenvolvimento de soluções interoperáveis e de padrões focados na eficiência e na experiência do usuário”, afirma João Pedro Paro Neto, presidente da Mastercard Brasil e Cone Sul.

A pesquisa foi feita entre os dias 26 e 30 de maio, com 508 consumidores brasileiros bancarizados de todas as regiões do país e portadores de smartphone.

CERCA DE 55% DOS BRASILEIROS ESPERAM QUE ATÉ 2030 TODAS AS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS SEJAM EM TEMPO REAL

As respostas demonstraram ainda um intenso apetite por novos serviços que tornem mais fácil a vida dos usuários. Mais de 70% dos respondentes gostariam de utilizar o celular para pagar todas as formas de transporte público, enquanto 56% considerariam útil poder dividir o custo de uma compra com outras pessoas, como uma refeição, por exemplo, no momento em que ela ocorra. 

No que se refere às expectativas de desenvolvimento dessas soluções, cerca de 55% dos brasileiros esperam que até 2030 todas as transações financeiras sejam em tempo real. 

Por outro lado, mais de 40% dos entrevistados acreditam que as lojas não aceitarão mais pagamentos em dinheiro, enquanto 27% desejam poder realizar pagamentos por meio de seus assistentes virtuais e 25% acreditam que não haverá mais agências bancárias e sim bancos virtuais.

INDÚSTRIA DEMONSTRA FORTE ADERÊNCIA COM 980 INSTITUIÇÕES INSCRITAS

Ao publicar a Circular nº 4.027, que define as regras para o início do funcionamento do PIX no país, o Banco Central na prática instituiu oficialmente o Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) e a Conta de Pagamentos Instantâneos (Conta PI). 

A primeira sigla (SPI) se refere à infraestrutura centralizada de liquidação bruta em tempo real de pagamentos instantâneos. É nesse ambiente que acontecerão as transferências de fundos entre seus participantes que serão os titulares das Contas de Pagamentos Instantâneos (Conta PI).

De acordo com a normativa, o sistema do PIX começará a operar oficialmente no dia 3 de novembro, chegando a pleno funcionamento no dia 16 do mesmo mês. Juntamente com a normativa, o Banco Central anunciou um total de 980 instituições financeiras e de pagamento como participantes da etapa de homologação. Da lista, constam não somente os cinco maiores bancos do país como também bancos regionais, digitais, fintechs, arranjos de pagamento e outras modalidades. 

Na ocasião, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, disse que o resultado evidencia o grande interesse do mercado em oferecer esse novo meio de pagamento e parabenizou a todas as empresas. 

“As instituições cuja participação é obrigatória demonstraram muito comprometimento em todo o processo de construção do PIX, e aquelas que vieram facultativamente abraçaram o desafio de transformar a indústria de pagamentos”.

A DESINTERMEDIAÇÃO E OS NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS

Entre as transformações que o PIX provocará no mercado, a desintermediação talvez seja o efeito que provoque as mudanças mais traumáticas. Ao falar sobre o assunto no contexto dos 6 Ds da disrupção, o especialista Edson Luiz declarou que, ao usar o cartão de pagamento para fazer uma transação no modelo atual, por exemplo, o portador está movimentando uma engrenagem formada por pelo menos 25 empresas que têm de trabalhar antes, durante ou depois do processo para que essa transação ocorra.

Em suas contas, ele menciona uma lista composta de representantes de funções como: fabricante do cartão (1), fabricante do chip que está no cartão (2),  operador logístico que entrega o cartão (3),  sistema de autenticação para ativar o cartão (4),  emissor (5), processador (6), sistema de criptografia para se comunicar com a bandeira (7), bandeira (8), sistema de comunicação da bandeira para falar com o emissor (9), sistema de processamento da bandeira (10), adquirente (11), criptografia do adquirente (12),  sistemas do adquirente (13), fornecedor do terminal (14), fornecedor do sistema que roda no terminal (15), operador logístico do POS (16), manutenção do POS (17), fornecedor de bobina de papel para o POS (18),  comunicação  do POS com outras áreas (19), chip do POS (20), sistemas de homologação do POS (21), sistema antifraude no POS (22), sistema antifraude do emissor (23), sistemas antifraude do adquirente (24) e padrão EMV (25).

“Mesmo com toda essa complexidade envolvida, temos a percepção de que toda a transação ocorreu em questão de segundos, mas na verdade não foi isso o que aconteceu no que se refere ao pagamento propriamente dito. O que foi efetivado naquele momento foi apenas uma autorização emitida, mas só no dia seguinte, ou num prazo de trinta dias, no caso do cartão de crédito, é que o dinheiro se moverá efetivamente de uma conta para outra”, explicou.

Segundo ele, isso ocorre porque o sistema brasileiro desvinculou o ato da “liquidação” do momento da “autorização” para dar uma impressão de que ele é mais rápido. 

Mas, com a utilização do PIX, isso deixará de ser dessa forma. Como o PIX vai transitar em uma plataforma própria, o dinheiro será realmente transferido de uma conta para outra em questão de segundos e, portanto, estará disponível para quem recebeu poder transferir para outro destino ou utilizar para comprar outra coisa imediatamente. 

“Quando isso estiver acontecendo, a maioria dessas empresas citadas no processo do pagamento com cartões não estará mais atuando”, disse. 

Embora o mercado ainda esteja num momento de entender e adaptar suas soluções para esse novo cenário, já estão começando a surgir novos modelos. É o caso da SpinPay, fintech que se posiciona como a primeira interface para pagamentos instantâneos do Brasil.

Seu modelo é baseado em uma estrutura que utiliza criptografia e blockchain para transferir de forma imediata o dinheiro do cliente para a conta do varejista. 

Com ela, o consumidor pode optar pelo uso da conta do banco, da corretora, da digital wallet ou de qualquer outro lugar que esteja plugado à Spin como local do débito. A solução elimina as dezenas de intermediários que um pagamento com cartão exige. Isso faz com que o custo da transação seja mais baixo e a velocidade da operação seja muito maior. 

COMO O PIX VAI TRANSITAR EM UMA PLATAFORMA PRÓPRIA, O DINHEIRO SERÁ REALMENTE TRANSFERIDO DE UMA CONTA PARA OUTRA EM QUESTÃO DE SEGUNDOS

O CEO da SpinPay, Alan Chusid, comenta que no momento em que o cliente autoriza, o dinheiro é imediatamente enviado para a posse do parceiro varejista. Segundo ele, esse é apenas o começo do que está por vir. “O momento atual é como se fossem os amistosos de preparação. A competição de verdade só vai começar quando todas as regras estiverem definitivamente estabelecidas e os preços conhecidos”, diz. 

O executivo afirma que o PIX na verdade terá uma função parecida com a de um chassi. “Será uma estrutura básica que permitirá que se crie o que quiser para aplicar em cima”, afirma. 

Para Boanerges Ramos Freire, o futuro mostra um cenário de convivência entre cartões, mobile e pagamentos instantâneos. Nesse ambiente, os tradicionais plásticos serão puxados principalmente por sua função crédito e embarcados em novas tecnologias, como mobile, QR Code, biometria etc. 

“Assim, o pagamento será cada vez mais meio e menos um negócio em si”, conclui.

Categorias
Banco Central Bancos Carteira Digital Cartões de Pagamento Credenciadora Digital Emissor Empreendorismo FinTech Inclusão Financeira Meios de Pagamento Millennials Mobile Payments Moeda Virtual Payments Regulamentação Serviços Financeiros Startups

BACEN – Mais um passo

Sempre gostei da atuação do Banco Central do Brasil e, com a publicação do edital de consulta pública 75/2019, sou cada vez mais fã do regulador.  

Acompanho o Bacen desde 2001, com a implantação do SPB. Na época, como executivo da Redecard e membro da ABECS, tivemos diversas interações com o Banco.

No início o Bacen parecia ter uma equipe muito radical, interessada em “quebrar ao qualquer custo” todas as barreiras, com a clara visão de aumentar a competição, trazendo inovação e reduzindo os custos do sistema. Embora o discurso parecesse radical, suas intenções sempre foram muito boas, entretanto, não tinha o poder para fazê-lo.

Durante os anos 2000, entre os participantes do mercado, havia um claro entendimento que nenhum setor gosta de ser regulado, mas se não houvesse alternativa, que fosse o Banco Central, ao invés do Congresso, afinal agem de forma técnica e não política.

Somente a partir da promulgação da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, que o Bacen passou a ser o agente regulador do sistema de pagamentos no varejo. Desde então temos visto uma atuação impecável (embora há quem discorde) do Banco Central. Sempre consultando e ouvindo todos os participantes do mercado, antes de emitir suas regras.

No dia 16/12/19, publicou o edital de consulta pública 75/2019, colocando em discussão proposta de circular que altera o Regulamento anexo à Circular nº 3.682, de 4 de novembro de 2013, para disciplinar a modalidade de arranjo de pagamento de “saque e aporte” no âmbito dos arranjos integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Os caixas eletrônicos são os principais veículos para a prestação de serviço de saque e de aporte. 

Revendo as mudanças e evolução do sistema de pagamentos dos últimos 5 anos, é perceptível um aumento significativo da concorrência, inclusão financeira, acesso dos MEIs (Micro Empreendedor Individual) ao sistema, redução dos custos, etc.

Houve uma explosão na oferta contas de pagamento (alternativa à conta bancária), contas digitais, carteiras eletrônicas (com QR Code ou NFC) e cartões pré-pagos.

Uma conta de pagamento, com um cartão pré-pago ou carteira eletrônica, parece ser o instrumento perfeito para substituir o papel moeda, melhorando a conveniência e segurança para um segmento importante da sociedade. De acordo com o Bacen, o dinheiro ainda é a forma de pagamento utilizado com maior frequência por cerca de 60% da população brasileira. Entretanto, a alternativa ao papel moeda ainda enfrenta algumas barreiras e a principal delas são os custos de saque e aporte.

Depositar ou sacar dinheiro de uma conta de pagamento implica em um certo trabalho e custos adicionais. Como em geral os provedores de contas de pagamento não possuem lojas físicas, aportar valores nas contas significa fazer uma transferência bancária (TED/DOC de uma conta bancária) ou pagar um boleto bancário com o valor que se deseja depositar. O saque poderia ser diferente, já que temos no Brasil uma excelente infraestrutura, que inclui um número significativo de caixas eletrônicos. Entretanto, o acesso ao sistema é restrito e exige um pagamento por saque que, muitas vezes, torna o sistema inviável para o consumidor.

Como disse o Bacen, há evidências de que os bancos digitais, os emissores de moeda eletrônica e mesmo bancos tradicionais de menor porte, por não disporem (ou disporem de forma muito limitada) de canais de atendimento presenciais, têm enfrentado custos elevados para dar acesso a esses serviços para seus clientes.

Com a nova regulação, proposta pelo BC, espera-se corrigir essa distorção, nivelar as condições concorrenciais entre agentes e aumentar a competição no Sistema Financeiro Nacional e no SPB.

 

Categorias
Bancos Bandeira Carteira Digital Digital Emissor Empreendorismo FinTech Google Pay MasterCard Meios de Pagamento Millennials Mobile Payments Moeda Virtual Payments PayPal Samsung Pay Segurança Serviços Financeiros Startups Visa

Payments e Autenticação Biométrica

Press Release da Juniper Research em 3/12/19.

Um relatório da Juniper Research mostra que o uso do reconhecimento facial, seja baseado em hardware ou software, está ganhando terreno na autenticação de pagamentos baseada em biometria.

De acordo com o relatório, a autenticação biométrica será usada para garantir US$ 2,5 trilhões em transações de pagamento móvel até 2024, um aumento de quase 1.000% em relação aos US$ 228 bilhões que deverão ser transacionados através do método até o final de 2019.

Biometria de hardware genérica que gera consciência, não uso

A nova pesquisa, “Mobile Payment Authentication & Data Security: Encryption, Tokenisation, Biometrics 2019-2024, mostra que a disponibilidade de hardware biométrico dedicado não será um obstáculo ao uso biométrico, uma vez que estará presente em cerca de 90% dos smartphones até 2024. No entanto, acreditam que menos de 30% desses telefones sejam usados para autenticar pagamentos sem contato, devido à presença de cartões sem contato.

O relatório também mostra que o uso do reconhecimento facial, seja baseado em hardware ou software, está ganhando terreno na autenticação de pagamento baseada em impressões digitais. A Juniper Research acredita que, devido à onipresença das câmeras de smartphones e à capacidade de utilizar plataformas de biometria como serviço com base em software, elas atingirão um nível de uso semelhante ao da biometria de hardware dedicada nos próximos 5 anos.

Padrões para levar a biometria para navegadores móveis

O relatório observa que existem vários padrões e protocolos de pagamento entrando em vigor no futuro que aumentarão o uso da biometria móvel. Mais particularmente, o requisito do 3D Secure 2.0 para autenticação de dois fatores levará os comerciantes a adotar biometria para tornar a experiência de pagamento mais suave (sem atrito) em uma variedade de plataformas.

“A biometria tem sido tradicionalmente usada para pagamentos pessoais sem contato”, observou o autor da pesquisa James Moar. “No entanto, com um aumento na necessidade de autenticação sem atrito em todos os canais de mCommerce, prevemos que mais de 60% dos pagamentos biometricamente verificados serão feitos remotamente até 2024”.

No entanto, o relatório mostra que isso se limitará principalmente a dispositivos Android, pois o iOS atualmente não suporta autenticação WebAuthn.

Categorias
Banco Central Bancos Bandeira Carteira Digital Cartões de Pagamento Credenciadora Digital Emissor Empreendorismo FinTech Inclusão Financeira Meios de Pagamento Mobile Payments Payments Regulamentação Serviços Financeiros Startups Subcredenciadoras

Transformação e Inovação – serviços financeiros e meios de pagamento

Texto de Luis Filipe Cavalcanti *

Os setores financeiro e de meios de pagamento passam por processos de disrupção em ritmo acelerado. Novas tecnologias como inteligência artificial, machine learning, blockchain, big data, processamento na nuvem, APIs, IOT, UX, mídias sociais, chat bots, realidade aumentada, wearables, biometria, entre outras, impulsionaram o surgimento de empresas dedicadas a aprimorar a experiência e o processo de compra do consumidor, bem como otimizar e transformar processos e modelos de negócio existentes. O uso intensivo das tecnologias digitais, associado à disseminação dos smartphones, intensificou o efeito de desmaterialização de ativos, em que objetos físicos são cada vez mais substituídos por ativos digitais, através de aplicativos no celular, fomentando inovação e desintermediação.

Com as novas tecnologias e as transformações exponenciais, novos modelos de negócio e processos digitais surgem, permitindo que startups e empresas estabelecidas aprimorem a relação com seus clientes e operem de forma mais enxuta, com ativos, equipe e custos fixos reduzidos, em um modelo de operação conhecido como “asset light”. O ritmo intenso das mudanças, não observado antes em termos comparativos, fez com que a transformação passasse a ser um ato contínuo na agenda estratégica das empresas, trazendo o desafio de alinhar pessoas e ajustar a cultura a novos paradigmas.

No setor bancário, os bancos digitais iniciaram o processo de transformação da indústria, oferecendo uma proposta de valor disruptiva e trazendo um novo conceito de banco, com modelos de negócio ágeis e escaláveis, oferecendo contas digitais com tarifas reduzidas (ou zero) como porta de entrada para a oferta de um portfólio de serviços e produtos financeiros customizados através do uso intensivo de dados.

Na área de meios de pagamento, o processo de transformação da indústria ocorreu a partir de 2010, quando houve o fim da exclusividade entre a credenciadora Visanet e a bandeira Visa (a exclusividade entre Mastercard e Redecard terminou em 2001). A partir de 2013, o processo de mudança se acelerou. Com a Lei n° 12.865/2013, o Banco Central instituiu o marco regulatório no setor com a criação dos arranjos de pagamento e instituições de pagamento, levando a um crescente aumento na quantidade de empresas participantes desse mercado, gerando maior competição, inovação e pulverização dos serviços oferecidos. Desde então, o mercado vem passando por sucessivas evoluções regulatórias, acarretando aumento da concorrência. As circulares de liquidação centralizada (BC Circular nº 3.765/2015) e o marco para subcredenciadores (BC Circular nº 3.886/2018) são exemplos desse movimento.

O Brasil apresenta um crescimento exponencial de fintechs. Segundo o site Radar Fintech, existem 529 startups financeiras em operação no Brasil, 151 apenas no setor de pagamentos, com soluções que melhoram as relações de compra e venda, reduzindo atrito, aproximando compradores e vendedores, tornando o pagamento ágil, simples, conveniente e transparente.

Com o surgimento e crescimento das fintechs, o chamado modelo tradicional de quatro partes do mercado de cartões, composto por bandeiras, bancos, credenciadoras e varejistas, também passa por uma transformação. As transferências instantâneas “peer-to-peer” e o QR Code criam alternativas de fluxo aos modelos tradicionais de pagamento, obrigando as empresas estabelecidas a repensarem seu modo de atuação. Como exemplo, as bandeiras de cartão, historicamente responsáveis por manter os ambientes de integração entre bancos e credenciadoras, estão abrindo as suas plataformas de forma colaborativa através de APIs para que fintechs desenvolvam soluções inovadoras. Investimentos estratégicos em fintechs, programas de aceleração e hackathons entraram definitivamente na agenda dessas empresas.

Em 2018, o Conselho Monetário Nacional regulamentou, através da Resolução nº 4.656, o funcionamento das empresas de tecnologia financeira que operam no mercado de crédito e criou duas opções de atuação: a Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). Com regras específicas e modelos de operação definidos, a regulamentação modernizou e permitiu a inovação no mercado de crédito, estimulando a competição e representando mais um passo no longo caminho de redução do custo de crédito e do spread bancário no Brasil. As fintechs inovaram no tempo de aprovação do crédito. Utilizando processos ágeis, estruturas enxutas e sob um guarda-chuva regulatório mais simples, elas utilizam tecnologias de inteligência artificial e machine learning, em conjunto com fontes tradicionais e alternativas de dados, para traçar o perfil individual do cliente, reduzindo riscos e melhorando a experiência do processo como um todo. Apesar das taxas oferecidas serem inferiores às dos bancos, o volume de crédito concedido por elas ainda é pouco significativo em relação ao mercado, o que, em parte, se justifica pelo processo de amadurecimento do modelo de negócio e por questões de funding para a operação.

Como um próximo e importante passo regulatório e tecnológico, o Banco Central anunciou que lançará o serviço de pagamentos instantâneos até 2020. Nele, os recursos da transação entrarão na conta do fornecedor em tempo real, através de uma liquidação centralizada no próprio BC. Os pagamentos poderão ser feitos através de telefones celulares e QR Codes, dispensando o uso das maquininhas (“desintermediação”), reduzindo os custos para comerciantes e participantes do sistema.

Em preparação para este novo cenário, cresce o número de carteiras digitais (“wallets”) e dos chamados “super aplicativos” para pagamentos, transferência de valores e outros serviços, bem como a disputa pelo uso e pela fidelidade do cliente. Empresas de varejo, tecnologia, delivery e bancos lançam produtos com o objetivo de influenciar e antecipar a mudança de hábito dos consumidores e das novas gerações. São exemplos de iniciativas: Ame Digital, Iti, PicPay, Magalu Pagamentos, RecargaPay, iFood Pay, Rappi Pay, banQi, Interpag, entre outros.

No epicentro destas transformações estão inseridos os conceitos de centralidade no cliente e estratégia digital. O consumidor terá diversas alternativas para realizar pagamentos e gerir a sua rotina financeira, e utilizará aquela que considerar mais conveniente e vantajosa, dependendo do seu perfil, necessidade e momento da compra. As fintechs aumentaram a “barra” do mercado nos quesitos de experiência do cliente na jornada de compra e em novos modelos de negócio (alguns ainda com desafios de sustentabilidade financeira), mas esse movimento foi essencial para a indústria que vem gradativamente aumentando, também,  a sua “barra” em como fazer negócios e atender aos clientes.

A crença de que “incumbentes devem encontrar inovação antes que fintechs encontrem distribuição” evoluiu. Bancos, adquirentes e bandeiras ajustaram as suas estratégias e desenvolveram o espírito de “fintechs”, identificando os principais pontos de atrito em suas operações, reorganizando estruturas e equipes em squads, buscando soluções ágeis e centradas no cliente, com equipes multidisciplinares, uso intensivo de tecnologia e ciclos rápidos de criação, feedback e melhoria. E foram além, deixaram o conceito de competição “pura” com as fintechs como a única alternativa, e seguiram para a colaboração e co-criação. Espaços como Cubo e Inovabra, bem como, os inúmeros investimentos feitos por empresas incumbentes em fintechs, são exemplos desse movimento.  

Ainda no contexto das mudanças regulatórias, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei n° 13.709/2018), já presente em países da Europa através da GDPR, entrará em vigor de forma plena em meados de 2020, o que pressiona as empresas a se prepararem, desde já, para lidar com os seus efeitos.

Por fim, o movimento de “Open Banking”, que já é usado e regulamentado na Europa desde janeiro de 2018, através do PSD2, está em implantação no Brasil. Em 24/04/2019 o Banco Central divulgou as diretrizes para o Sistema Financeiro Aberto (“open banking”), com expectativa de implantação a partir do segundo semestre de 2020.

Uma série de transformações estão em curso nos mercados financeiro e de meios de pagamento levando à maior concorrência, eficiência e melhoria dos serviços. E então as empresas questionam o que deve ser feito. Como antecipar tendências que surgem no mercado? Como entregar propostas de valor vencedoras aos clientes? A resposta não é direta, nem única. Em um cenário de transformação contínua, as respostas também devem ser contínuas e, para atingir respostas e entregas contínuas, em ciclos rápidos e alinhados às mudanças, as empresas precisam estar próximas aos clientes, entender as suas necessidades, e usar intensamente tecnologia e análise de dados para atender às suas novas e crescentes expectativas. O impacto das mudanças começou e o resultado será a construção de um ecossistema financeiro e de pagamentos mais pujante, eficiente e ágil. Transformação e inovação contínuas já são o novo “normal”.

* Luis Filipe Cavalcanti – Executivo e empreendedor com 15 anos de experiência no mercado de meios de pagamento. Foi sócio da Muxi Tecnologia em Pagamentos S/A, onde ocupou a posição de CEO, além de diversas posições de direção executiva. Trabalha como consultor de empresas e fintechs nas áreas de estratégia, produtos e tecnologia. Engenheiro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com Mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ e MBA pelo MIT Sloan School of Management.

Categorias
Banco Central Bandeira CADE Cartões de Pagamento Credenciadora Elo Emissor MasterCard Meios de Pagamento Payments Regulamentação Serviços Financeiros Subcredenciadoras Visa

Guerra no mercado de cartões chega à Câmara dos Deputados

Matéria de Aluisio Alves, publicado hoje na seção Notícias de Negócios, da agencia Reuters.

A efervescência do mercado de meios de pagamentos terá um novo capítulo na semana que vem, quando uma audiência na Câmara dos Deputados vai discutir a tarifa de intercâmbio no mercado de cartões, após a Mastercard, maior bandeira de cartões no país, ter anunciado ajuste na tabela cobrada sobre adquirentes.

A audiência da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, em 2 de outubro, deve ter atenção incomum dados os interesses envolvidos num mercado com receitas estimadas em cerca de 30 bilhões de reais neste ano, segundo dados do setor.

A reunião foi convocada pelo deputado Augusto Coutinho (Solidariedade/PE), após a repercussão com o anúncio da Mastercard, há pouco mais de um mês, de reajustes da tarifa de intercâmbio sobre cartões de crédito, que as bandeiras cobram de lojistas e que entrará em vigor em 1º de outubro.

Para algumas modalidades, a taxa da Mastercard sobre pagamentos com cartões de crédito será reduzida, como para o setor aéreo, que cairá de 1% para 0,7% do valor das operações. Já para o de bares e restaurantes, o percentual subirá dos atuais 0,75% para 1,05%. A tarifa é o principal componente do chamado MDR, a taxa que as adquirentes cobram dos lojistas.

Ajustes na tarifa de intercâmbio são comuns no setor de pagamentos. Entre outros fatores, as bandeiras levam em conta as despesas com campanhas promocionais para maior uso dos cartões em determinados segmentos do varejo. Essas taxas são ajustadas por decisão exclusiva das próprias bandeiras e elas alegam que esses ajustes são uma forma de equilibrar o mercado, passando taxas maiores para setores com capacidade de absorvê-los e reduzindo a dos que têm margens de lucro menores.

Normalmente, esses ajustes levam a disputas ferrenhas entre os atores envolvidos na cadeia, incluindo lojistas, adquirentes e bancos, entre outros, mas restritas aos bastidores do setor.

Mas desta vez, diante de um crescente pressão sobre as margens no mercado de adquirência de cartões, após a entrada de dezenas de competidores para dividir um espaço outrora dominado por um duopólio, o anúncio da Mastercard teve reação imediata.

Reservadamente, mesmo entre as grandes adquirentes ligadas a grandes bancos a decisão da Mastercard foi recebida de forma negativa, dado o atual momento do mercado de preços cadentes.

Algumas já começaram a avisar que terão que repassar preços maiores segundo comunicados a lojistas aos quais a Reuters teve acesso. A Safrapay, do Banco Safra, citou nominalmente a Mastercard como motivo do ajuste. A Stone, por sua vez, disse que cerca de 60% da taxa que cobra é repassada aos bancos emissores de cartões, e que ela “não é visível e nem você nem a Stone podem negociá-la”.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reagiu, inclusive com artigos publicados em jornais, acusou a Mastercard de beneficiar os grandes bancos do país, em detrimento das adquirentes de cartões não ligadas a bancos.

Isso porque boa parte da taxa de intercâmbio é repassada pelas bandeiras aos bancos, como uma forma de incentivá-los a emitirem mais cartões da sua marca.

“Esse é um aumento absurdo, uma extorsão”, vociferou Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, em entrevista à Reuters.

Segundo ele, o movimento da Mastercard beneficia os bancos, porque estes atuam nas duas pontas, como emissores de cartões e como adquirentes. Ao repassarem maiores taxas cobradas sobre lojistas, as bandeiras acabam ajudando os bancos a compensar perdas de margens na operação de adquirência, segundo Solmucci.

Entre os grandes bancos, o Itaú Unibanco é dono da Rede, segunda maior adquirente do setor, enquanto a líder Cielo é controlada pelo Bradesco e pelo Banco do Brasil. O Santander Brasil controla a GetNet.

“Essa medida da Mastercard atende principalmente os grandes bancos emissores de cartões, e prejudica bastante as empresas com atuação mais restrita à adquirência”, disse Solmucci. “Se não reagirmos agora, outras bandeiras vão subir também”, acrescentou o executivo, que também é sócio de uma prestadora de serviços para empresas de pagamentos, a Performa.

As taxas cobradas sobre os lojistas têm caído nos últimos anos no país, na esteira da entrada de novos concorrentes. Esse movimento deu uma guinada em maio, quando o Itaú Unibanco passou a isentar os clientes de seu braço de adquirência, a Rede, da taxa sobre antecipação de recebíveis, que é a principal fonte de receita de adquirentes como Stone e PagSeguro, que não são grandes emissores de cartões.

O presidente da Stone e da Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), Augusto Lins, acusou o Itaú na época de práticas predatórias para tentar sufocar as concorrentes menores, algo que o banco negou.

Agora, a grita das adquirentes menores e de lojistas é de que movimentos como o do aumento da tarifa de intercâmbio da Mastercard sobre setores mais fragmentados e com menor capacidade de negociação acabe dando ainda mais força aos bancos.

Solmucci, da Abrasel, evitou falar em eventual conluio entre as bandeiras e os bancos, mas disse que o setor precisa de mudanças na regulação para evitar modelos ‘verticalizados’ de negócios, em que poucas instituições com atuação em várias etapas da cadeia usem sua força para esmagar a concorrência.

Diante disso, um dos pontos mais aguardados da audiência da próxima semana na Câmara é uma apresentação sobre o setor por parte do Banco Central, cujo presidente, Roberto Campos Neto, foi convidado a participar. Nela, o regulador pode dar pistas sobre eventual intenção de regular a tarifa de intercâmbio em cartões de crédito.

A esse respeito, o BC publicou no início do mês o resultado de um levantamento sobre o setor de pagamentos, mostrando que a tarifa de intercâmbio no débito caiu abruptamente no final de 2018, quando entrou em vigor um teto para o setor.

Já no cartão de crédito na modalidade à vista, a taxa média praticada no setor era maior do que o patamar médio praticado desde o início da série histórica, iniciada em 2009.

Segundo o consultor Edson Santos, ex-executivo da Redecard (hoje Rede) e presidente da Global Payments no país, tentativas de fixar um teto sobre tarifa de intercâmbio já foram feitas em outros países, mas os resultados não foram bons.

“Um caminho possível poderia ser criar um comitê com participantes do mercado para tratar da taxa de intercâmbio, o que seria mais transparente”, disse Santos.

Procurada, a Mastercard preferiu não se manifestar sobre esta reportagem. Rede e Itaú Unibanco também não comentaram. O Banco Central afirmou que não iria se pronunciar.

Consultado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) afirmou que não há “investigação aberta” sobre o assunto.

Categorias
Banco Central Bancos Bandeira Carteira Digital Credenciadora Digital Emissor Empreendorismo FinTech Inclusão Financeira Meios de Pagamento Millennials Mobile Payments Payments Regulamentação Serviços Financeiros Startups

O que são Pagamentos Instantâneos?

Texto de Marcelo Martins.

Os sistemas de pagamento estão evoluindo em um ritmo exponencial para uma direção de mundo cada vez mais rápido, interoperável, inclusivo, online e centrado na experiência do usuário. Novas tecnologias e modelos de negócios deverão, em apenas alguns anos, mudar drasticamente como são feitas as transferências e compras diárias.

Entre essas inovações, o destaque é para os Pagamentos Instantâneos: pagamentos que são autorizados e liquidados em tempo real, disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, e normalmente precisam apenas de um aplicativo no celular e um código QR. O Banco Central iniciou ano passado um projeto para implementar um ecossistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) no Brasil até final de 2020.

Quais os principais problemas dos pagamentos tradicionais que podem ser solucionados pelos pagamentos instantâneos?

O Banco Central (BC) identificou três grandes lacunas nos sistemas de pagamento atuais que as novas empresas e tecnologias de pagamentos instantâneos podem ajudar a solucionar:

– Utilização elevada de dinheiro em espécie: Embora o uso do dinheiro físico esteja diminuindo, ainda representa mais de um terço do consumo privado brasileiro, segundo o relatório sobre Meios de Pagamento da Fisher. O pagamento em espécie, no entanto, gera custos desnecessários com a criação, logística e a destruição do numerário, além do custo imensurável relativo à facilitação da lavagem de dinheiro, da corrupção (quase inexistente a rastreabilidade) e da sonegação de impostos.

– Alto custo e dificuldade de transferências eletrônicas interbancárias: O DOC e a TED, principais formas de transferir dinheiro, contam com tarifas muito elevadas. Além disso, há uma enorme quantidade de informações (nome, CPF, banco, agência e conta) que o usuário é obrigado a preencher para identificar o destinatário dos recursos, aumentando as possibilidades de erros de identificação, ou seja, uma péssima UX (User Experience) de pagamento.

– Alto custo de bandeiras de cartão: Cartões de crédito e débito possuem custos de aceitação muito elevados para os vendedores e os recursos demoram um tempo significativo para serem recebidos na conta.

Vale ressaltar que os pagamentos instantâneos não apenas oferecem a solução ideal para esses três problemas, como também oferecem uma série de vantagens para os seus usuários.

Qual a relação de QR Code com Pagamentos instantâneos?

Os pagamentos instantâneos tornam desnecessário guardar dados como números de conta e agências de bancos e ainda permitem com que seja possível realizar o endereçamento das transações com o simples uso de um smartphone aliado a dados corriqueiros, como: e-mail, CPF, número de celular, ou pela leitura de um QR Code.

Essa tecnologia pode ser utilizada por qualquer usuário, seja ele uma empresa ou pessoa física, e a movimentação dos recursos das contas sempre fica disponível em segundos para o recebedor.

E quando falamos de QR Code para pagamento já podemos ver o começo dessa tendência com o crescente número de carteiras digitais surgindo em diferentes segmentos, como: Ame (Grupo B2W), carteira Mercado Pago (Grupo Mercado Livre), carteira Ifood (Grupo Movile), carteira de benefícios corporativos Alymente, carteira Rappi, carteira Payly (Grupo Cosan), Cielo Pay, Swipe (empresa especializada em tecnologia para carteira digital), carteira Iti (Grupo Banco Itaú), InterPag (Grupo Banco Inter) e Pic Pay (Grupo Banco Original). Inclusive, existem em São Paulo estabelecimentos que dão a sensação das lojas na China: QR Codes dispostos por todo o balcão.

Foto tirada em 22/08/2019 na Vila Olímpia em São Paulo

Outro ponto evidente no boom das carteiras digitais, revela-se na grande competição para conquistar o usuário final. As companhias utilizam-se de diferentes recursos para tanto: cashback (devolvem parte do dinheiro gasto na compra), descontos imediatos na conta e programas de fidelidade agressivos.

A foto acima lembra o mercado de pagamentos brasileiro antes da Lei 12.865/13 (regulamentou o setor brasileiro de meios de pagamento eletrônico), no qual os lojistas deveriam ter diferentes POS (máquinas de cartão) para aceitar diferentes bandeiras (bandeira Visa somente era aceita nas POS da Visanet e a bandeira Mastercard somente na Redecard). Essa mesma situação observa-se no mercado atual de carteiras digitais, uma vez que, o lojista deve ter todos os QR Codes para conseguir aceitar as diferentes carteiras.

Pagamentos Instantâneos tem o objetivo de permitir o pagamento imediato e transparente entre usuários de diferentes carteiras, desta maneira o lojista apenas faria uso de uma carteira/QR Code para conseguir receber pagamentos de todas as carteiras.

Assim, a indústria de meios de pagamento está mais perto da verdadeira interoperabilidade e inclusão financeira, que estimulam o desenvolvimento de soluções inovadoras aos desafios do mercado tradicional.

Quais as principais vantagens dos pagamentos instantâneos para as empresas?

Redução ou remoção das taxas de transação: devido ao grande número de intermediários, que tomam fatias das transações financeiras, os preços atuais para a aceitação de pagamentos com cartão online são altas.

O uso do Open Banking aliado a pagamentos instantâneos por novas empresas reduzirá o valor das taxas e deve gerar outras formas de monetização, como novas oportunidades baseadas no uso de dados, que podem até mesmo eliminar a necessidade dessa cobrança.

Aceitação em diversos canais: como os pagamentos instantâneos podem ser realizados com o simples uso de um celular aliado a algum dado identificador, isso faz com que seja muito fácil para que qualquer negócio realize transações financeiras com qualquer pessoa.

Além disso, os pagamentos instantâneos eliminam o risco de os comerciantes online não serem pagos, porque a liberação de mercadorias e serviços pode ser facilmente sincronizada com a realização do pagamento.

Já para pagamentos business-to-business, os pagamentos instantâneos melhoram o fluxo de caixa, facilitam o gerenciamento de fundos, reduzem atrasos nos pagamentos e aceleram o pagamento de faturas.

Quais as principais vantagens dos pagamentos instantâneos para os consumidores?

Facilidade de uso e inclusão financeira: a possibilidade de enviar e receber pagamentos instantâneos a partir de um smartphone pode funcionar como um enorme incentivo para que pessoas acessem serviços financeiros.

De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, 96% da população brasileira ainda utiliza dinheiro físico e considerando que já existe mais de um smartphone por habitante no país que significa mais de 220 milhões de celulares ativos, o uso de pagamentos instantâneos através do celular pode representar níveis sem precedentes de inclusão financeira e um salto de crescimento explosivo para novos negócios.

Crédito instantâneo e barato no checkout: a rapidez e segurança em relação a identidade do usuário nos pagamentos instantâneos aliadas a uma boa regulamentação do BC podem criar oportunidades de novos modelos de mercado com o oferecimento de crédito de maneira instantânea para os consumidores.

Isso também possibilitaria que diversas instituições financeiras, de bancos a novas fintechs, competissem em tempo real para analisar os dados do consumidor e oferecer o melhor preço para esse crédito.

Futuro promissor para as empresas que se dedicarem a esses novos modelos de negócios

Com lançamento previsto para o final de 2020 no Brasil, os pagamentos instantâneos oferecem diversas oportunidades de negócio para empresas da indústria de meios de pagamento. Reforçando esse caminho, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em pronunciamento para o Senado Federal, afirmou: “O mundo passa atualmente por uma onda de inovação e mudanças. É crucial […] preparar o Banco Central do Brasil para desempenhar apropriadamente suas funções nesse novo ambiente, que será certamente baseado em tecnologia e no fluxo rápido de informações. Novas tecnologias como Blockchain, o uso de inteligência artificial, identidade digital, Pagamentos Instantâneos, open banking, dentre outras inovações, estão alterando completamente os modelos de negócios e os serviços financeiros.”

Posicionar-se da maneira correta é a chave para aproveitar ao máximo os benefícios dessa nova tendência, preservar o atual marketshare ou expandir o mercado com novas soluções.

Marcelo Martins é formado em Economia no Insper, Direito na PUC-SP e cursando especialização em Gestão de Produto Digital na University of Alberta. Foi Product Manager na Wirecard Brasil e Diretor de Produto na StarPay. Atualmente é especialista em inovação para indústria de Meios de Pagamento na Pay Ventures (conteúdo especializado e consultoria estratégica) e CPO na Blockforce. Co-Founder e especialista em Pagamentos nas Fintechs: Swipe (tecnologia para carteiras digitais) e Alymente (carteira digital de benefícios corporativos). Participa do grupo de trabalho do Banco Central sobre Pagamentos Instantâneos, dos grupos de Open Banking e Pagamentos Intantâneos da ABFintech e da Anjos do Brasil.