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Blockchain! O que você precisa saber

Blockchain

O que é necessário saber sobre a tecnologia Blockchain? Bem, se você for um entusiasta sobre o assunto, ou curioso sobre novas tecnologias, muito provavelmente não tenho nada novo pra lhe dizer. Entretanto, se seu caso é total desconhecimento, ou mesmo pouco conhecimento, mas uma necessidade de entender, talvez este post lhe ajude.

Vamos começar pelo básico. Veja a matéria publicada no Brazil Journal, sob o título: “O básico sobre o blockchain (e tudo que esta em jogo)”Felipe Infante de Castro descreve Blockchain de forma muito objetiva e de fácil assimilação.

Blockchain tem o potencial de mudar a forma como compramos e vendemos, interagimos com o governo e verificamos a autenticidade de tudo, desde títulos de propriedade até origem de produtos organicos.
Essa tecnologia combina a abertura da internet com a segurança da criptografia para dar a todos uma maneira mais rápida e segura de verificar informações importantes e estabelecer confiança (trust).

Um dos melhores videos que explicam Blockchain foi produzido por Anders Brownworth, ele nos explica, de forma visual, o que são hash, bloco, cadeia de bloco, distribuição de blocos, etc. Assista seu video de 17 minutos em “Blockchain Demo”

Outro video interessante sobre Blockchain foi publicado por Westpac Banking, sob o título “Blockchain Demystified”. A história da ilha de Yap também é contada no livro “Do Escambo à Inclusão Financeira – A Evolução dos Meios de Pagamento” e cujo capítulo em referência foi publicado neste blog em “Bitcoin – parte 2/3”.

A tecnologia Blockchain fornece uma maneira simples e segura de estabelecer confiança (Trust) para praticamente qualquer tipo de transação, ajudando a simplificar a troca de dinheiro, produtos ou informações confidenciais em todo o mundo.

 

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A morte do Cartão de Plástico

Fim do Plastico

Excelente artigo publicado por Steven Q. Riddick, Director of Global Product Delivery da Global Payments. Vale a pena ler:

The Death of Plastic Payment Cards: Money’s Next Evolution

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Bitcoin Blockchain – Hard Fork

Blockchainfork 3

Hard Fork se traduz como uma bifurcação, em outras palavras, em algum momento Bitcoin pode se dividir em duas, uma denominada Bitcoin Unlimited – BTU e a a conhecida Bitcoin Core – BTC. Qual sobrevive como Bitcoin? e qual se torna uma Altcoin (moeda alternativa) ou simplesmente desaparece?

Trata-se de um assunto complexo e muito técnico, mas nosso objetivo é lhe mostrar, com certa simplicidade, qual a discussão e o que está em jogo, com a colaboração de Rafael Câmera Santos.

Há algum tempo, players ligados a Bitcoin estão discutindo sobre a capacidade de processamento de transações com Bitcoins. Todos concordam que a eficiência deve ser melhorada, mas discordam na forma. De que eficiência estamos falando?

Cabe ao minerados registrar no blockchain as novas transações de compra e venda de Bitcoins, isto é feito cada vez que ele consegue resolver uma questão matemática e gera um novo bloco (mineração). A cada bloco gerado o minerador recebe 12,5 Bitcoins como prêmio. Um novo bloco é gerado a cada 10 minutos, em média.

A cada novo bloco minerado se adiciona o registro das transações com Bitcoins (transferência de um endereço para outro), entretanto o tamanho do bloco é limitado a 1 megabyte, como resultado, cerca de 14 transações são registradas por segundo. Com o aumento do volume de transações com Bitcoin, há hoje um grande backlog de transações para serem registradas no blockchain.

Isto gerou uma concorrência para o registro de transações, resultando em pagamento de fees para ganhar prioridade. Esses fees chegam até US$2,00 por transação, o que inviabilizaria registros de transações de pequena monta.

Na criação do Bitcoin, Satoshi Nakamoto explica que a limitação de 1MB no tamanho do bloco tinha por objetivo proteger a blockchain contra spam. Afinal, sem um limite, alguém pode usar a blockchain para armazenar e transmitir outras informações ou dados fora bitcoin, como Satoshi fez no primeiro bloco gerado, ele escreveu “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks” (https://en.bitcoin.it/wiki/Genesis_block).

Um grupo de desenvolvedores do software Bitcoin (software padrão da tecnologia) desenhou uma proposta para aumentar a capacidade do bloco, chamada Bitcoin Unlimited. Entretanto, grande parte dos desenvolvedores que suportam Bitcoin Core, embora aceitem a ideia de aumentar a capacidade de processamento, não aceitam a alternativa que gera um “Hard Fork”, eles defendem uma solução chamada “Segregated Witness” (Testemunha segregada, em tradução livre), também conhecida como SegWit.

Esta atualização redesenha o processo de verificação das transações no blockchain, tornando-o mais eficiente. A mudança no protocolo remove a assinatura digital contida em cada transação de bitcoin e a coloca ao lado da blockchain. Ao diminuir o tamanho da transação, mais transações caberão em cada bloco, aumentando o número de transações processadas por segundo na rede Bitcoin. As estimativas de quanto espaço será economizado em cada bloco após a entrada do SegWit variam de 75% a 400%. Com isso, espera-se que o problema de escalabilidade da tecnologia seja aliviado.

Os arquivos de assinatura que forem separados das transações poderão, no final do processo, ser descartados, liberando espaço de armazenamento no disco rígido. A importância das assinaturas se dá exclusivamente na verificação do bloco. Quanto mais antigo é o bloco, menor a chance de ele precisar ser verificado novamente.

A implementação do SegWit não será feita de forma instantânea, embora existe um forte consenso por trás da proposta. O problema para implantação do SegWit é o fato de que para ser adotada, essa versão precisará da adesão de 95% da rede de mineradores. Somente quando esse percentual fizer a atualização é que poderemos ver os ganhos de eficiência se propagarem através de toda rede.

Os que defendem SigWit acreditam não existir uma razão para a maioria dos mineradores se opor à atualização, uma vez que ele não apresenta qualquer risco ao Bitcoin e à possibilidade de alguém perder dinheiro com a sua implementação.

O código do Bitcoin é público para qualquer pessoa ler ou copiar (‘fork’) para seu próprio projeto. Como tal, é possível para diferentes versões do Bitcoin para executar lado a lado na rede.

O Bitcoin Unlimited difere do Bitcoin Core porque o parâmetro de tamanho do bloco não é codificado de forma rígida – os nodes e os mineradores suportam o tamanho desejado. Então, ele depende de uma idéia chamada “consenso emergente”, definida pelos defensores de Bitcoin Unlimited assim:

“Um consenso emergente surgirá com base na economia de livre mercado, à medida que os nodes e mineradores convergem em pontos focais de consenso, criando no processo uma entidade viva e respiratória que responde de modo livre e descentralizado às condições do mundo real”.

No caso do tamanho do bloco, a idéia é que através do mercado livre, os mineradores chegarão a um acordo sobre um tamanho de bloco. No entanto, os usuários podem “votar” em outros parâmetros também.

Dependendo de quem você perguntar, Bitcoin Unlimited é o futuro do Bitcoin ou uma implementação quebrada do software.

Para resumir um debate reconhecidamente complexo, cada lado quer aumentar a capacidade da rede, mas querem fazê-lo por métodos diferentes. Hoje, executar ou suportar o Bitcoin Unlimited é basicamente sinônimo de desejar um ajuste ao parâmetro de tamanho de bloco do Bitcoin, definido em 1MB hoje.

Entre a comunidade técnica, há muitos que sentem que o Bitcoin Unlimited pode não ser um substituto seguro para o Bitcoin Core. Alguns desenvolvedores argumentam que a abordagem não funciona em nível técnico. Uma das razões é que o software entrega aos mineradores muito controle sobre as decisões do protocolo. Outro, é que muitos desenvolvedores pensam que ‘consenso emergente’, na prática, levaria a “hard fork” da blockchain (a criação de versões diferentes e concorrentes da rede).

O “Hard Fork” (bifurcação) acontece quando mineradores geram blocos com tamanho superior a 1MB, que não podem ser reconhecidos na blockchain Biticoin Core, criando assim uma outra blockchain, neste caso Bitcoin Unlimited. Essa bifurcação, significa que depois que ela ocorrer, os usuários de Bitcoin teriam duas carteiras, uma em cada blockchain, com os mesmos endereços. Logo, se um usuário fizer uma transferência em uma blockchain, algum atacante malicioso poderia copiar a informação da transação e realizar a mesma na outra blockchain, pois a assinatura e outros detalhes seriam o mesmo. Isso chama-se de Replay Attack

Na semana passada, um bug no código do sotware pôs em cheque a capacidade técnica dos desenvolvedores da Bitcoin Unlimeted, quando quase 70% dos nodes que executam o Bitcoin Unlimited ficaram fora do ar.

O bug abriu uma vulnerabilidade através da qual um determinado tipo de mensagem enviada para os nodes poderia fazer com que eles fossem colocados off-line. Os nodes são responsáveis por validar as transações em uma cadeia de blocos, mantendo uma cópia do registro inteiro do histórico de transações e, essencialmente, aplicando as regras da rede através do código.

O problema foi inicialmente marcado no site GitHub. Os detalhes espalharam-se então nas mídias sociais, provocando um amplo comentário de apoiadores e críticos do projeto. Durante o ataque, a contagem de node de BU caiu para 252, de acordo com o site de dados de criptografia Coin.Dance.

Houve ao menos um outro problema com o software. Um mês atrás, um bug no Bitcoin Unlimited upgrade levou o pool de mineração Bitcoin.com a perder 13,2 Bitcoins quando criou um bloco que não foi aceito pela rede.

Como já dissemos, esta discussão é altamente técnica e complexa, entretanto, não há dúvida que estamos assistindo uma batalha política, de um lado, sem citar nomes, alguns players parecem querer obter mais poder na rede e investem tempo e dinheiro para convencer mineradores e outros player a suportar Bitcoin Unlimited. Do outro lado, player defendendo Bitcoin Core e contra o risco de terminarmos com duas Bitcoins, sem saber ao certo o destina de cada uma.

O preço de Bitcoin sofreu perdas de mais de 7% em valor na sexta-feira e mais de US $ 2 bilhões no valor de mercado nas últimas 48 horas. O preço da Bitcoin caiu abaixo de US $ 1100 pela primeira vez em quase um mês.

Um grupo de quase 20 exchanges lançou planos de contingência no caso de a rede Bitcoin se dividir em dois, criando duas moedas concorrentes. Aparentemente, as empresas mais poderosas na comunidade Bitcoin estão reconhecendo que um “Hard Fork” pode ser inevitável. Sua declaração certamente atordoou o mercado de investimento. Muitas das principais exchanges Bitcoin do mundo, incluindo Bitfinex, Shapeshift, BTCC, Kraken, Bitstamp e dez outros lançaram uma declaração detalhando seus planos de contingência se o Bitcoin Unlimited fork contra o Bitcoin for lançado. Aqui está um trecho da declaração (você pode ver em sua totalidade aqui):

“Se uma “Hard Fork” (bifurcação) contenciosa ocorrer, a implementação do Bitcoin Core continuará a ser listada como BTC (ou XBT) e a nova como BTU (ou XBU), mas não sem proteção de repetição adequada (“Replay Attack”). Fazemos isso não por julgamento ou por razões filosóficas, mas sim por considerações práticas e operacionais”

Em resposta, nesta segunda-feira, a equipe de desenvolvimento de software Bitcoin Unlimited declarou à CoinDesk que está encorajando trocas Bitcoin para listar qualquer blockchain é apoiado pela maior prova de trabalho como ‘BTC’ Designação comum para Bitcoin.

“Nós, da Bitcoin Unlimited, estamos promovendo … as melhorias nas qualidades anti-fragilidade da Bitcoin através de uma maior descentralização, um aspecto disso é a remoção do planejamento central da economia de tamanho de bloco”, diz a declaração. E continua:

“No caso improvável de uma divisão blockchain, não estamos muito preocupados com o que as exchanges decidem listar os dois tickers como em termos de nome, no entanto, aconselhamos fortemente que as trocas observem o Consenso de Nakamoto: a cadeia com mais prova de trabalho é a Bitcoin unidade monetária (atualmente conhecida como BTC ou XBT) .Estamos encorajados que os exchanges estejam bem preparadas para o evento de uma divisão blockchain e que isso irá resultar no mercado decidir qual Bitcoin será o mais útil e, portanto, valioso no longo prazo .”

Não sabemos como será o fim dessa história, mas até lá, pode-se imaginar que os reflexos dessa “batalha” se traduza, entre outras coisas, em uma maior volatilidade dos preços de Bitcoin. Aos interessados, vale a pena acompanhar o site Coin Dance, que alem de mostrar como se dividem os apoiadores das duas alternativas, mantém atualizados diversos dados e estatísticas sobre Bitcoin.

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Bitcoin – parte 2/3

bitcoin

Material retirado do livro “Do Escambo à Inclusão Financeira” – A Evolução dos Meios de Pagamento, publicado em novembro de 2014.

A mineração

O processo de mineração significa realizar uma série de cálculos matemáticos complexos para criar blocos adicionais na “cadeia de blocos” [block chain em Inglês], em que os mineiros são recompensados com 25 Bitcoins. A solução é então transmitida para toda a rede, e a competição por um novo bloco (e sua recompensa de vinte e cinco moedas) recomeça.

No começo, qualquer um armado com um computador comum pode baixar e executar o software BTC e obter (ou “minerar”) Bitcoins. Quanto mais poder de computação você puder dedicar à tarefa, melhor as chances de chegar em primeiro lugar em cada solução. Esta característica do sistema, pelo projeto, resultou em uma espécie de corrida computacional. Quatro anos depois do início do projeto Bitcoin, somente máquinas muito poderosas têm musculatura suficiente para manter o ritmo com os “mineradores” existentes na rede.

Desta forma, BTCs são extraídos como o ouro costumava ser, em quantidades pequenas em relação ao total, de modo que o fornecimento cresce lentamente. O nível de complexidade de mineração é regulado de modo a criar um fornecimento pré-estabelecido de novas moedas até o limite de 21 milhões de moedas incorporadas ao software; o último deverá ser extraído em 2140. Depois disso, presume-se que haverá bastante tráfego para manter benefícios que fluam na forma de taxas de transação, em vez de mineração novas moedas.

Da perspectiva do usuário, Bitcoin não é nada mais do que um programa aplicativo ou computador móvel que oferece uma carteira BTC pessoal e permite a ele enviar e receber bitcoins com eles. Nos bastidores, a rede Bitcoin compartilha uma contabilidade pública chamada “cadeia de blocos”. Esse livro-caixa contém todas as transações já processados, permitindo que o computador do usuário possa verificar a validade de cada transação. A autenticidade de cada transação é protegida por assinaturas digitais correspondentes com os endereços de envio, permitindo que todos os usuários tenham controle total sobre o envio de BTCs dos seus próprios endereços Bitcoin.

Um endereço é como uma conta bancária em que um usuário pode receber, armazenar e enviar Bitcoins. Em vez de ser protegido fisicamente em um cofre, BTCs são protegidos com criptografia assimétrica (chave pública – chave privada). Cada endereço consiste em uma chave pública, do conhecimento de todos, e uma chave privada – que o proprietário deve manter em segredo. Qualquer pessoa pode enviar Bitcoins para outra, utilizando a chave pública, mas apenas a pessoa com a chave privada pode gastá-los, seja transferindo para outra pessoa, seja fazendo um pagamento por uma produto ou serviço. Embora os endereços sejam públicos, ninguém sabe quais endereços pertencem a quais pessoas: endereços BTC são pseudônimos.

Depois de depositar seus Bitcoins em uma “carteira”, a carteira alerta [broadcasts] todos os outros usuários de BTC que ela contém Bitcoins. Esta informação é incorporada na cadeia de blocos. A carteira gera uma chave pública acessível a qualquer um e uma chave privada ou endereço que autoriza o envio de Bitcoins para outros endereços públicos.

Quando um usuário perde a carteira BTC, é o mesmo que estivesse perdendo uma carteira convencional. Bitcoins perdidos ainda permanecem na cadeia de bloco, assim como quaisquer outras BTCs, no entanto, ficam em estado dormente para sempre, porque não há maneira de alguém encontrar a chave privada que lhes permitiriam ser utilizados novamente.

Marc Andreessen, co-fundador da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, tem uma boa definição de como BTC funciona: “Bitcoin é uma contabilidade pública distribuída em toda internet”. Você “compra” uma “vaga” na contabilidade, seja “minerando”, com dinheiro ou com a venda de um produto e serviço. Você “vende” saindo da contabilidade e negociando sua BTC para alguém que quer entrar na contabilidade. Qualquer um no mundo pode comprar ou vender sua posição na contabilidade a qualquer hora que quiser – sem a necessidade de aprovação e com taxas muito baixas (ou mesmo sem taxa alguma). As “moedas” Bitcoin em si são simplesmente lançamentos no livro-razão, semelhantes, de alguma maneira, aos assentos em uma bolsa de valores, com a diferença que serem muito mais amplamente aplicáveis às operações do mundo real.

A contabilidade Bitcoin é um novo tipo de sistema de pagamento, sem a necessidade de um controle central para autorizar a transação, e em muitos casos, sem taxas. Essa última parte é extremamente importante. BTC é o primeiro sistema de pagamento no mundo onde as transações acontecem sem taxas ou com taxas muito baixas (frações de centavos). Sistemas de pagamento existentes cobram taxas de cerca de 2 a 3% – em mercados competitivos – ou significativamente mais elevadas.

Uma ótima analogia ao Bitcoin é a descoberta do antropólogo norte-americano Willian Henry Furness III que, depois de passar diversos meses na ilha de Yap (localizada no Pacífico e, naquela época, com uma população de 5 ou 6 mil habitantes), escreveu um livro sob o titulo A ilha da moeda de pedra [The Island of Stone Money], publicado em 1910. Com o mesmo título, o renomado economista Milton Friedman, escreveu o famoso artigo publicado em 1991. Para não perder a narrativa, faço aqui uma livre tradução de um trecho do texto original:

(…) [como] sua ilha produz nenhum metal, eles recorrem à pedra, cujo dispêndio de trabalho em buscar e confeccionar é tão verdadeiramente uma representação do trabalho como as moedas mineradas e cunhadas da civilização.

Seu meio de troca que eles chamam de “fei” consiste em pedras sólidas, grossas trabalhadas tal como rodas com diâmetro que variam de um a 12 pés, tendo no centro um buraco grande o bastante para ser inserido um poste forte o suficiente para suportar o peso e facilitar o transporte. Essas “moedas” de pedra [feitas de calcário encontrado em uma ilha à cerca de 400 milhas de distância onde] foram originalmente extraídas formatadas e trazidas para Yap por alguns ousados navegadores nativos, em canoas e em jangadas (…)[uma] característica notável desta pedra moeda (…) é que não é necessário para o seu proprietário exercer sua posse. Depois de concluir um negócio que envolve o preço de um “fei” muito grande para ser convenientemente movido, seu novo proprietário fica satisfeito em aceitar o reconhecimento de sua propriedade e, sem mesmo uma marca para indicar a troca, a moeda permanece em repouso nas instalações do antigo proprietário.

Meu velho e fiel amigo, Fatumak, garantiu-me que havia na aldeia próxima, uma família cuja riqueza era inquestionável, reconhecida por cada um, e ainda assim ninguém, nem mesmo a própria família, já tinha posto os olhos ou as mãos nessa riqueza que consistia de um enorme “fei”, cujo tamanho é sabido apenas por tradição; e assim tem sido nas últimos duas ou três gerações; naquele momento, [a pedra] está repousada no leito do mar.

Muitos anos atrás, um ancestral dessa família, em uma expedição na busca por “fei”, garantiu que esta pedra extremamente grande e valiosa, foi colocada em uma balsa para ser rebocada para casa. Uma violenta tempestade se levantou, e os tripulantes, para salvar suas vidas, foram obrigados a deixar a balsa à deriva, e a pedra afundou longe de suas vistas. Ao chegar em casa, todos eles testemunharam que o “fei” era de proporções magníficas e de qualidade extraordinária e que se perdeu, não por culpa do proprietário. Então ela (a pedra) foi universalmente admitida (…) e o mero acidente de sua queda no mar foi muito insignificante. Afinal, o fato de estar a algumas centenas de metros abaixo da água não deve afetar seu valor de mercado, uma vez que foi cortada da forma correta. O poder de compra da pedra permanece, portanto, como válido como se [a pedra] estivesse apoiada visivelmente contra a lateral da casa do proprietário …”

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Bitcoin – parte 1/3

Bitcoin

Material retirado do livro “Do Escambo à Inclusão Financeira” – A Evolução dos Meios de Pagamento, publicado em novembro de 2014.

Como surgiu o Bitcoin

Em 2008, Satoshi Nakamoto, o fundador do Bitcoin, cuja verdadeira identidade não é conhecida, habilmente combinou tecnologias existentes de rede entre pessoas (peer-to-peer), técnicas de criptografia, assinaturas digitais e o poder potencial de efeitos de rede para projetar e desenvolver o sistema BTC. Nakamoto foi muito claramente motivado neste esforço pela precipitação da crise financeira daquele ano. Quando o experimento foi lançado e as primeiras 50 Bitcoins (o chamado “bloco genesis”) foram “mineradas”, em janeiro de 2009, ele (ou ela, ou eles) incluiu a seguinte linha de texto no primeiro bloco de Bitcoin que corresponde à manchete do jornal The Times daquele dia: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for Banks”[em tradução livre, algo como “Em 3/1/2009, Chanceler à beira de segundo resgate para os bancos”]. Decerto, Nakamoto estava querendo provar com aquela manchete que aquele era de fato o primeiro bloco, não existindo nenhum outro antes desse. Além disso, a manchete do jornal The Times escolhida por ele revela, de certa forma, sua motivação política.

Até seu completo desaparecimento da web, no segundo trimestre de 2012, Nakamoto foi um dos participantes mais ativos em fóruns de criptografia, em que ele discutia Bitcoin livremente, chegando a publicar um documento de nove páginas descrevendo os detalhes do projeto. Uma revisão informal de vários posts e comentários de Nakamoto confirma que, desde o início, BTC foi concebido como um sistema para a eliminação da possibilidade de corrupção a partir da emissão e troca de moeda. Ou, dito de outra maneira: em vez de confiar nos governos, bancos centrais e outras instituições de terceiros para garantir o valor das transações em moeda e de garantias, Bitcoin iria colocar na rede a sua confiança em matemática.

Nakamoto chegou a escrever, em fevereiro de 2009, um post no blog da Fundação P2P – organização internacional focada em estudar, pesquisar, documentar e promover práticas peer to peer [arquitetura de redes de computadores onde cada um dos pontos ou nós da rede funciona tanto como cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados sem a necessidade de um servidor central, gerando conhecimento comum e colaborativo]. Nesse post, ele descrevia a diferença entre BTC e a moeda fiduciária:

“[Bitcoin é] completamente descentralizado, sem servidor central ou partes confiáveis, porque tudo é baseado em prova de criptografia em vez de confiança. A raiz do problema com a moeda convencional é toda a confiança necessária para fazê-la funcionar. O banco central deve ser confiável para não desvalorizar a moeda, mas a história de moedas fiat é cheia de transgressões dessa confiança. Os bancos devem ser confiáveis para guardar o nosso dinheiro e transferi-lo eletronicamente, mas eles emprestam em ondas de bolhas de crédito com apenas uma fração de reserva. Temos que confiar neles quanto à nossa privacidade e confiar neles para não deixem os ladrões de identidade drenar nossas contas (…) Com a moeda digital baseada na prova de criptografia, sem a necessidade de confiar em um intermediário, o dinheiro pode ser seguro e as transações, realizadas sem esforço.”

Por um lado, o Bitcoin restaura o dinheiro como uma forma de propriedade, com a atribuição de títulos de propriedade. O que está sendo negociado não é uma relação de confiança, mas um recurso de propriedade. A este respeito, BTC recorda a honestidade e integridade do padrão ouro-moeda.

Por outro lado, Bitcoin nos atira para a frente no tempo, fazendo a troca monetária geograficamente possível entre dois indivíduos no planeta, independentemente deles terem uma conta bancária ou cartão de crédito. Esta é a característica que faz um cripto-padrão ser muito melhor que qualquer padrão ouro proposto.

BTC vem ganhando um enorme destaque na mídia mundial como nenhum outro assunto. Entretanto, há uma enorme lacuna de conhecimento e entendimento entre o que imprensa, governos e pessoais normais pensam e o que a crescente massa de tecnologistas e estudiosos no assunto acreditam que Biticoin é.

Muito do que foi escrito até agora sobre Bitcoins centrou-se na percepção dos perigos de seu relativo anonimato, a irreversibilidade de transações e deles poderem ser usados para lavagem de dinheiro e transações criminosas. Além disso, o fato de seu criador permanecer em total anonimato cria um ambiente de mito. Este comportamento ditado pelo “medo” tem impedido a avaliação racional dos potenciais benefícios e deficiências da cripto-moeda. Ora, dinheiro também é anônimo; ele também é usado em lavagem de dinheiro e transações ilegais. Tal como BTCs, dinheiro roubado é difícil de se recuperar, e uma transação em dinheiro não pode ser facilmente rastreada até a fonte. Quando uma identidade é roubada, também não há recurso imediato para a reversão de transações, como com cobranças de cartão de crédito ou reembolsos bancários. No entanto, é difícil acreditar que qualquer um que tenha escrito criticamente sobre os perigos do Bitcoin preferiria uma economia em que as transações em dinheiro privadas fossem ilegais.

Em primeiro lugar, Bitcoin em seu nível mais fundamental é um avanço na ciência da computação – que se baseia em 20 anos de pesquisa em moeda criptográfica, e 40 anos de pesquisa em criptografia, por milhares de pesquisadores ao redor do mundo. BTC é a primeira solução prática para um problema antigo na ciência da computação chamado de “Problema dos generais bizantinos”.

Imagine um grupo de generais do exército bizantino (época do Império Romano do Oriente, entre os anos de 330 a 1453) acampado com suas tropas em torno de uma cidade inimiga. Comunicando-se somente por mensageiros, os generais devem combinar um plano de batalha. No entanto, um ou mais deles podem ser traidores que vão tentar confundir os outros. O problema é encontrar um algoritmo para assegurar que os generais leais irão chegar a um acordo comum. De forma geral, o problema coloca a questão de como estabelecer a confiança entre partes não-relacionadas em uma rede não-confiável como é o caso da Internet.

A solução que Bitcoin introduz é justamente esta: todos os generais começam a trabalhar em um problema matemático que, estatisticamente, deveria demorar 10 minutos para ser resolvido se todos os envolvidos trabalharem nele. Uma vez que um deles encontra a solução, ele transmite essa solução para todos os outros generais. Todo mundo então começa a trabalhar na extensão dessa solução – que mais uma vez deve levar mais dez minutos. Cada general sempre começa a trabalhar na extensão da solução mais longa que ele já viu. Depois que uma solução for estendida 12 vezes, cada general pode ter certeza de que nenhum inimigo controlando menos da metade dos recursos computacionais poderia ter criado uma outra cadeia de comprimento similar. A existência da cadeia de 12-blocos é a prova de que a maioria deles teve participação na sua criação. Nós chamamos isso de um esquema de “prova de trabalho”.

A consequência prática de resolver este problema é que Bitcoin nos dá, pela primeira vez, uma maneira de um usuário da Internet transferir uma peça de propriedade digital única para outro usuário da Internet, de modo que a transferência seja garantida por ser segura, transparente (todo mundo sabe que a transferência ocorreu), e ninguém pode contestar a legitimidade dessa transação.

Pense sobre assinaturas digitais, contratos digitais, chaves digitais (para fechaduras físicas ou para cofres virtuais), a posse digital de ativos físicos (como carros e casas, ações digitais e títulos)… e dinheiro digital. Com o uso da tecnologia de Bitcoin, todos esses ativos poderão ser trocadas através de uma rede distribuída de confiança entre pessoas, que não requer ou depende de nenhuma autoridade central ou intermediários. E tudo de forma que apenas o proprietário de um ativo possa enviá-lo, somente o destinatário pode recebê-lo, o ativo somente pode existir em um lugar de cada vez, e todos podem validar transações e propriedade de todos os bens a qualquer instante.

Embora existam ou tenham existido pelo menos 110 outras moedas digitais, Bitcoin é responsável por 77% do valor de mercado de todas as moedas digitais e por uma porcentagem ainda maior de usuários de moeda digital. Por isso a utilizamos como modelo sobre esta nossa discussão sobre moeda digital.

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Bitcoin Carteira Digital Empreendorismo MasterCard Meios de Pagamento Moeda Virtual Visa

Mastercard libera três APIs blockchain

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A moda é falar de Blockchain. Encontramos muita gente empolgada com a capacidade disruptiva desse tecnologia, assim como muitos que não acreditam. Entretanto, gigantes com MasterCard, Visa, IBM, etc. iniciaram ou estão dando os primeiros passos na utilização da tecnologia.

Para não ser superado pelo rival Visa, a Mastercard está intensificando seu interesse na tecnologia de contabilidade distribuída, adicionando silenciosamente três APIs blockchain ao seu site de desenvolvedores.

Mastercard diz que seu blockchain “facilita novas oportunidades de comércio para a transferência digital do valores, permitindo que os varejistas e as instituições financeiras transacionem em uma contabilidade distribuída”

Veja a matéria publicada pela CoinDesk, em 31/11/16 e matéria publicada no site Bitcoin.com no dia 1/11/16.